Tirem as crianças da sala,
porque vou falar aqui algumas coisas impróprias para menores. Não para menores
em geral, mas para crianças. E para crianças bem pequeninhas, fique claro. Também
não falarei coisas exatamente impróprias no sentido corrente do termo, mas sim
coisas que crianças pequeninhas não deveriam saber antes da hora. Vamos a elas:
Papai Noel não existe. Coelhinho da Páscoa também não existe. A Bela
Adormecida, depois que abriu os olhos (bem abertos), não viveu feliz para
sempre com o Príncipe, que desencantou. Lamento, são verdades. Mas verdades
adultas. Poupemos as criancinhas. Afinal, tudo a seu tempo.
Mas há outras coisas que também
não existem na prática, na vida real, apesar do mito que se forma em torno
delas, mesmo na adultice. E é sobre uma dessas coisas que eu quero falar aqui
neste espaço hoje, fazendo um link à inexistência do Coelhinho da Páscoa, do
Papai Noel e da felicidade eterna da Bela Acordadinha. Coisa que não existe,
meus amigos leitores, minhas estimadíssimas leitoras, é “joguinho de futebol só
de brincadeira”. Não existe isso. Pra cima de mim, não, jacaré! Homem, quando
entra em campo ou em quadra, calçando chuteiras, exibindo os gambitos, um olho
na bola e outro na rede adversária, ficará imediatamente possuído pelo espírito
competitivo que move o gênero masculino desde que lhe foi extraída aquela
costela para que surgisse a expressão mais elevada da espécie: a mulher. O
homem, que já nasceu como um projeto torto, ficou ainda mais precário com a
perda daquela costela, lamento, mas é a verdade, e eu avisei para tirar as
crianças da sala.
Mas não me venham com “joguinho
só de brincadeira”, porque isso, meu caro Coelhinho da Páscoa, meu amigo Noel
(não o sambista, o outro), isso não e-xis-te. Pare e observe o que acontece,
mesmo nas ditas partidinhas de final de semana entre os amigos, entre os
colegas de serviço. Basta a bola começar a rolar que é possível escutar o
rosnado que sobe do esôfago de cada um dos contendores. Há uma bola picando em
campo e é preciso ser o primeiro a chutá-la rumo à meta adversária, marcar os
tentos, sair-se vitorioso. E dê-lhe canelaço, carrinho, trombada. A brincadeira
mesmo fica por conta da cervejinha após a partida, quando todos voltam a ser
amigos, colegas, parceiros. Viva! Nessa hora, até arrisco em dar as caras. E
não estranhem se me virem surgir acompanhado do Coelhinho ou, de preferência,
com a Bela.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de setembro de 2015)
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