Sempre que lanço os olhos sobre
o calendário, ponho-me a pensar a respeito das datas que ele encerra, do
significado de algumas delas. Umas, pessoais (como a de meu aniversário, por
exemplo, a que eu mais gostava até os 15 anos de idade, e a que mais camuflo
depois dos 40) e, outras, locais, nacionais e universais. Agora, por exemplo, o
dia que se diferencia no calendário de mesa recebido de presente por
generosidade extrema da agência bancária que para guardar o dinheiro que tenho
cobra o dinheiro que não tenho, é a do 7 de setembro vindouro próximo, feriado,
naturalmente.
Desde que me lembro por gente,
comemora-se o 7 de setembro. Dando uma pesquisadinha básica (eu e as pesquisas,
lembram?), não foi difícil descobrir, para minha surpresa (pessoas
autocentradas levam muitas surpresas quando descobrem que as coisas não giram
sempre ao redor de seu umbigo), que o 7 de setembro é comemorado há muitos anos
antes de eu ter me descoberto por gente, lá pelos sete anos de idade, no início
da década de 1970. Primeiro, a data passou a me chamar a atenção porque era o
dia em que não havia aula, porém, tínhamos de, mesmo assim, vestir o uniforme
do colégio e sairmos da cama bem cedo, no frio (em setembro ainda faz frio,
desde aqueles idos), para irmos marchar na praça, ao som de bandas marciais.
Demorou ainda alguns anos para
passar a ter a noção de que a data evocava mais do que apenas um dia de folga
(se é que marchar na praça por obrigação pode ser considerado como folga, vá
lá), mas tratava-as da celebração da Independência do Brasil do jugo de
Portugal, feita por Dom Pedro I, em 1822. Muitíssimo antes de eu nascer,
portanto. Mais sete anos e se comemorará o Bicentenário da Independência. E é
aí que entra em cena o tal do “eu pensando ao olhar o calendário”.
Independência de que, mesmo? Ah, sim, de Portugal.
Pois é. Dos ditames de Portugal,
nos livramos há quase 200 anos. Falta ainda nos independizarmos da ação das
quadrilhas de corruptos, da violência urbana, dos maus governantes, da falta de
educação do povo, da pobreza econômica e cultural da sociedade, da falta de
cidadania e de tantas outras coisas que o leitor e a leitora ajudam a
completar. Libertar-se de Portugal, visto agora, em retrospecto, parece ter
sido fichinha. Mas Dom Pedro I não está mais aí para comparar, né. Do resto,
cabe agora a nós darmos nossos gritos do Ipiranga.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de setembro de 2015)
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