Diz o ditado popular que você
não pode julgar um livro pela capa. Sim, concordo, todos concordamos. Aliás, é
de lei concordar com a essência dos ditados populares. Qualquer pessoa
municiada de bom senso concorda, afinal, o que os ditos ditados populares fazem
é encerrar em si toda a carga conceitual de uma visão de mundo compartilhada
pela esmagadora maioria da população. Por isso é que são populares. Os ditados impopulares,
por outro lado, até tentam lá ditar as suas coisas, mas são refutados pelo
gosto do povo e acabam sugados pelas bocas-de-lobo da História. Da História dos
ditados populares, diga-se, mas não de passagem.
Ninguém vai sair por aí
repetindo um ditado impopular, porque, em fazendo isso, estará incorrendo em
uma contradição em si mesma, uma vez que o próprio ato de evocar o ditado,
tirando-o da sombra, o populariza, e ele, de impopular que originalmente era,
passa imediatamente a ser alçado à categoria de ditado popular, que é ao que
todos os ditados, em última análise, aspiram. E não podemos ser condescendentes
– e muito menos coniventes - com as aspirações escusas dos ditados impopulares.
Nós, não, jacaré! Tenho dito!
Mas falávamos do dito ditado
referente às capas dos livros, que são insuficientes para determinar a
qualidade do conteúdo literário que envolvem. Uma capa de livro bela, atraente,
bem transada, não significa que a literatura nele contida está em igual patamar
em termos estético-literários. Às vezes, ocorre justamente o contrário, e
então, estaremos comprando gato por lebre e trazendo à luz outro ditado popular
que momentaneamente neutraliza e impopulariza o ditado anterior. É claro que
uma capa bonita, bem transada, conforme já dito, tem o poder de nos aproximar
do objeto livro, especialmente quando pouco sabemos a respeito da obra e menos
ainda sobre o autor.
É só depois de efetivado o contato inicial,
viabilizado pelo poder de atração exercido pela cosmética da capa, que
passaremos a conhecer em detalhes a consistência do conteúdo do livro. Disso
dependerá nossa decisão de nos afastarmos dele, ou de nele mergulharmos,
independentemente da capa. Eis aí a sabedoria popular do ditado, já que serve
de metáfora óbvia para tanta outra coisa. Bendito aquilo que está bem dito,
ponho-me aqui a criar ditado novo, para ver se populariza.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de setembro de 2015)
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