Eu não gostava dos professores
de educação física, no colégio. A sentença encerra uma contradição em si,
porque, na verdade, o que eu não gostava mesmo era das aulas de educação
física, e acabava projetando nos professores toda a intensidade de minha
não-gostança daquelas horas que, para mim, eram quase tortura. Os professores,
em si, não tinham nada a ver com esses meus gostares e desgostares, que não
servem de escala para medir a personalidade de ninguém.
Na verdade, hoje, olhando em
retrospecto, percebo que os professores de educação física que tive ao longo de
minha vida de estudos (primeiro e segundo graus e universidade) eram boas
pessoas, educadores esforçados, profissionais, figuras bacanas, camaradas,
coisa e tal. Problema mesmo era eu, que, resignado, enfiava o calçãozinho em
casa e os kichutes a partir de um ritual mecanizado conduzido pela imperiosa
necessidade de obter a frequência necessária para não acabar amargando no final
do ano a vergonha de ficar de recuperação em... educação física! E ia-me eu lá,
para as aulas de educação física, duas vezes por semana, correr em volta do
campo ou da quadra, fazer dez apoios, dez polichinelos (eu odiava polichinelos
devido à exposição pública sistemática de minha falta de coordenação motora),
meu fôlego se esvaindo, o coração querendo sair pela boca e a alma rezando para
voltar correndo para casa desenhar histórias em quadrinhos e continuar lendo as
aventuras de Pedrinho nas imensidões do Sítio do Picapau Amarelo.
Sem falar que tinha a questão
dos óculos, essa parte integrante de meu corpo que nasceu comigo e que era a
mais prejudicada nesses momentos. O suor jorrava sobre as lentes e as embaçava
enquanto eu corria. A armação era alvo preferencial das bolas de futebol, de
tênis, de vôlei e de basquete nas quadras, onde não podia tirá-la sob pena de
sair sempre correndo rumo às paredes dos ginásios; e eram indispensáveis nas
aulas de natação para que eu pudesse diferenciar a superfície do fundo das
piscinas. É, também tinha isso.
Mas sobrevivi, cá estou,
saudável e faceiro, a ponto de poder redimir minha lembrança daqueles ótimos
professores de educação física e de poder estender meus parabéns a todos os
profissionais dessa área, cujo dia se comemora hoje.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de setembro de 2015)
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