Dizem que um bom jornalista se
mede por sua capacidade de espanto. O que o axioma pretende sinalizar é que o
profissional da informação não pode deixar adormecer a sua capacidade de se
surpreender com as coisas do mundo que o rodeiam, sob o risco de amortecer a habilidade
de detectar aquilo que é notícia, assassinando assim a essência jornalística. O
mesmo vale para um cronista mundano. Ele precisa manter sempre desperta em si a
capacidade de se surpreender com as coisas do mundo que o cercam, sob pena de perder
a mão, ficar sem inspiração nenhuma e, daí, foi-se crônica!
Eu procuro fazer a minha parte,
mantendo sempre os olhos bem abertos, os ouvidos aguçados, o olfato afiado, a
boca o mais fechada possível e os dedos prontos a dedilharem o teclado, com
todos os sentidos atentos (consegui citar todos os cinco conhecidos, viram só?)
em busca daquilo que possa me surpreender e virar, se não notícia, pelo menos,
uma crônica mundana. E é surpreendente a minha capacidade de me surpreender com
aquilo que me surpreende! Esses dias, por exemplo, tenho andado surpreso com o
estranhismo de algumas coincidências existentes em alguns episódios
significativos da História universal. Querem ver?
Vejam só a coisa esquisita: o
Rio Hudson, aquele rio famoso que corta parte do estado norte-americano de Nova
York e que banha a cidade de mesmo nome, foi descoberto no ano de 1609. Sabem
por quem? Ora, por um explorador e navegador inglês chamado Henry Hudson (1550
– 1611)! Chamava-se Hudson o sujeito que descobriu o Rio Hudson! Não é uma
coincidência fantástica? Fico só imaginando o Henry lá na Inglaterra, já na
porta de casa, mochila nas costas, pronto para sair e se despedindo da esposa;
“Tchau, darling, vou dar uma navegadinha e ver se descubro algum rio pela aí e
já volto”. A esposa, concentrada fazendo um bolo inglês, atira-lhe um beijinho
de longe e, quando vê, meses depois, ele volta com a notícia: “Honey, você não
vai acreditar, mas descobri justamente o Rio Hudson”! Não é fascinante?
Tantos rios no mundo àquela
época ainda a serem descobertos pelos navegadores e o Hudson dá de cara
justamente com o Rio Hudson! É uma chance em quantas? Mais difícil do que eu me
embretar aí pelos morros da Serra e amanhã topar com o Rio Kirst. Jamais
viverei essa glória. Até porque, o das Antas já foi descoberto há tempos...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de setembro de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário