Fico me perguntando: para que se
botar a querer dizer algumas coisas, se há quem as diga muito melhor do que
você jamais seria capaz de fazer? Foi o que pensei quando assisti esta semana,
em uma rede social (gosto do jargão “em uma rede social”, porque fica assim, na
indefinição, e ninguém sequer de longe imagina qual “rede” seria, o que é
compreensível, haja vista a existência de redes que, devido a seu conteúdo,
estão mais para antissociais do que qualquer outra coisa), quando assisti a um
trecho de vídeo contendo um depoimento marcante que o então presidente do
Uruguai, José Mujica (presidiu o país entre 2010 e 2015), concedeu a um
documentário intitulado “Quebrando o tabu”. Assisti e parei para refletir.
Em vez de ficar aqui viajando na
maionese, como é de lei nestas mal digitadas que mal digito diariamente, e quem
me lê bem o sabe, decidi ceder o espaço à transcrição das palavras do estadista
uruguaio, por achar que vale a pena. Assim sendo, lá vai Mujica:
“A forma como vivemos, e também os nossos
valores, são a expressão da sociedade na qual vivemos. E a gente se agarra a
isso. Não digo isso por ser presidente do Uruguai hoje. Pensei muito sobre
isso. Passei mais de dez anos na solitária. Tive tempo... Em sete anos, nem
sequer li um livro. Tive muito tempo para pensar. E descobri o seguinte: ou
você é feliz com pouco, com pouca parafernália, pois a felicidade está em você,
ou não se consegue nada.
Isso não é a apologia da
pobreza, mas da sobriedade. Só que inventamos uma sociedade de consumo,
consumista, e a economia tem de crescer, porque, se não cresce, é ‘uma tragédia’.
Inventamos uma montanha de consumos supérfluos, em que nos dedicamos a ficar
comprando e descartando o tempo todo. Mas o que gastamos realmente é tempo de
vida. Isso porque, quando eu ou você compramos algo, não o pagamos com
dinheiro. Nós pagamos é com o tempo de vida que tivemos de gastar para obter
aquele dinheiro. Mas tem um detalhe: a única coisa que não se pode comprar é a
vida. Tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta. E é lamentável gastar a
vida para perder a liberdade”.
E ponto. Nada mais a dizer sobre
aquilo que tão bem está dito.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de setembro de 2015)
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