Dizem os calendários e os
almanaques que hoje, 30 de setembro, celebra-se o Dia Mundial da Navegação. Dito
assim, sem ir mais a fundo na origem da data e nas intenções da homenagem,
pode-se navegar na maionese e atribuir à efeméride uma plêiade (ah, os dicionários!)
de significados que singram (ah, os trocadilhos) muito além das obviedades
marítimas. Porque o Dia Mundial da Navegação, hoje em dia, pode se referir não
só a marujos e capitães espiadores de escotilhas, mas também aos internautas
que passam a vida a navegar pelas vastidões oceânicas do mundo virtual. E inclusive
a seres esquisitos como eu, que navegam pelas páginas da literatura.
Tirando aquelas vezes na
infância em que fui levado por meus pais às praias de Camboriú e de Cassino a
fim de molhar os pés e os gambitos nas marolas da beira-mar, a primeira vez que
naveguei mesmo em alto-mar foi na companhia do velho pescador Santiago,
acomodado na canoa em que travou a batalha de vida e morte contra o enorme
marlin que Ernest Hemingway tão bem retratou nas páginas de seu “O Velho e o
Mar”. Anos mais tarde, passeei pelos sete mares a bordo do Pequod, testemunhando a insânia do Capitão Ahab na caça ao
cachalote branco Moby Dick, na alucinada e inebriante obra homônima de Herman
Melville. Começava assim a entender o significado das palavras contidas no
verso famoso de Fernando Pessoa, de que “navegar é preciso, viver não é
preciso”, como metáfora para a existência.
Depois amargurei as agruras de
Ulisses a bordo da Argos, repleta de
argonautas, em sua longa e atribulada jornada marítima de volta para casa em
Ítaca, após sair-se vitorioso na Guerra de Troia. Aquilo também não foi nada
fácil. Mas a bordo da nau capitânia da armada de Pedro Álvares Cabral, vivi
emoção ímpar ao espiar pelo ombro do escriba Pero Vaz de Caminha quando ele
registrava em suas cartas as emoções da descoberta das novas terras situadas do
lado de cá do Atlântico.
Essas minhas grandes navegações
literárias só encontraram eco quando finalmente passeei de fato em alto-mar a
bordo do navio de cruzeiro Monarch,
que me levou a saborear as cristalinas águas do Mar do Caribe, no ano passado.
Ah, “o mar, o mar”! A simbologia de sua vastidão é quem está de parabéns nesta
data, a inspirar as aventuras de quem o singra a bordo de barcos, de
computadores e de livros.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de setembro de 2015)
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