Mais uma vez a boa vontade da
natureza entrou em ação e ofereceu de bandeja, para quem ficou na Serra no
final de semana, um domingo ensolarado, quente, limpo, convidativo, inspirador.
Já de manhã cedinho ele chegou fazendo a todos o convite para desentocar e
inventar programas que fizessem jus às benesses do tempo bom, essa conjunção
meteorológica ideal que almejamos todos os dias de nossas vidas, apesar de eu
fazer parte do grupo dos que também amam chuvas e trovoadas de vez em quando. “Vamos,
vamos, saiam de casa, inventem programas, aproveitem-me em minha plenitude”,
dizia o sol, cujos raios entravam pelas janelas, aqueciam nossos pés e
aceleravam nossas almas.
Convite aceito, chamado
atendido, a dúvida agora era: comer flores no Vale dos Vinhedos ou devorar
porongos em Criúva? Sim, porque as opções eram muitas, especialmente pelo fato
de a Região da Uva e do Vinho estar a mil com o início da vindima, efeméride
anual que atrai turistas de todas as partes para a região. As flores? Ah, as
flores agora integram os cardápios dos restaurantes chiques que se propõem a
oferecer ao turista uma experiência gastronômica diferenciada e você pode
saboreá-las como acompanhamento ou entrada, não sei direito, ainda não fiz a
experiência. A família, aliás, optou por rumarmos a Criúva justamente por temer
minhas reações à mesa no Vale dos Vinhedos no restaurante que serve flores,
pois que já me viram olhando estranho para o arranjo floral que enfeitava uma
mesa dia desses e acredito que não confiaram nas minhas promessas de bom
comportamento.
Então, fomos a Criúva, vivenciar
uma experiência gastronômica embasada na típica comida de fazenda servida na Casa
Verde, preparada pelo casal Claudia e Átila, cujo tempero especial é a larga
simpatia e o acolhimento humano. E foi ali que nos botamos a comer porongos.
Como o atilado leitor e a sábia leitora sabem, porongo é o fruto de uma família
de vegetais que proporciona a criação de cabaças e, na região dos Pampas, o
fabrico das cuias de chimarrão. Só que, quando colhidos apenas dois dias após
florescidos, podem ser apreciados como uma deliciosa salada, preparada em
conserva: os poronguinhos. Fartamo-nos de poronguinhos em Criúva e eis que
agora me tornei um comedor de cuias. Uma das delícias da vida é isso: estar
sempre a postos para as surpresas e as novidades que ela engatilha. E ah,
flores... Não desisti de vocês...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de janeiro de 2016)
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