Fui vítima de uma dose
vendavalesca de gentileza na manhã de segunda-feira (“próxima passada”, como
diriam os de antanho, termo bastante comum entre aqueles que viveram nos tempos
em que se escrevia e se remetia cartas). Não é comum sermos alvos de gentilezas
inesperadas no iniciar de uma semana, especialmente em uma segunda-feira, dia
tão injustamente malquisto por gatos alaranjados e por aqueles que estão
infelizes com seus trabalhos, com suas situações no mundo, com coisas externas
e internas. Como não sou alaranjado, nem gato, e tampouco ando infeliz, não
preciso muito para que alguma boa surpresa ilumine meu começo de semana.
Mas ah! Um elogio... Um elogio
amplo, sincero, desbragado, entregue diretamente por telefone pela pessoa
disposta a elogiar, sem papas na língua, isso tem o poder de furar toda nuvem
carregada que eventualmente se esteja armando nos céus da existência de
qualquer mortal. A prática, por sinal, tem sido usada com tanta raridade entre
as gentes do mundo hodierno (“hodierno” é outro termo arcaico usado pelas pessoas
de antanho, daquele mesmo antanho das missivas, das epístolas e do agir humano)
que chega a paralisar a pessoa-alvo das frases elogiosas. Confesso que fiquei
boquiaberto, estupefato, feliz e radiante com o fluir da cascata de elogios,
enquanto os recebia.
Não há presente melhor a ser compartilhado
do que um elogio espontâneo, sincero e – o melhor de tudo – inesperado. Isso
renova as baterias, recarrega as forças vitais, esculpe no rosto um sorriso,
protagoniza na alma uma faxina, rejuvenesce a pele, elimina rugas, interrompe a
queda de cabelos, desintoxica o organismo, expulsa radicais livres, exorciza
fantasmas de todas as estirpes. Acho até que emagrece. Bom, se emagrece, não
sei, mas que nos deixa mais leves, deixa. Senti-me, segunda-feira passada,
flutuando sobre nuvens ao encerrar do simpático telefonema.
E o que ganhou com isso a pessoa
que telefonou? Ora, seguramente ganhou em dobro tudo aquilo que produziu em mim
e, de lambuja, a alegria de ter feito uma ação humana de inestimável valor sem
gastar nada, ou, no pior das hipóteses, apenas o custo de uma ligação urbana de
cinco minutos. Bem mais barato do que qualquer produto ou técnica de
rejuvenescimento. Além disso, tirou das cinzas do esquecimento um ato de
extrema civilidade, comprovando que nem tudo está perdido e que não estamos
sós. O mundo, prezado leitor, estimada leitora, não foi totalmente tomado pelos
“odiadores”. Ele ainda tem, sim, lugar para gente.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de janeiro de 2016)
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