Dona Esmeraldina é uma senhora
muito chique, muito elegante, muito sociável e socialite por essência. Lendo essa
singela abertura a respeito dela mesma, Dona Esmeraldina gostaria que este
humilde escriba acrescentasse também que ela é “muito social”, uma vez que
participa religiosamente de campanhas de cunho benemerente como a do agasalho, jantares
e chás beneficentes e doações por telefone a entidades diversas. Pois bem,
então, Dona Esmeraldina é, também, muito pelo social. Esteja dito.
Dona Esmeraldina é, na essência,
uma pessoa do bem. Quem a conhece, sabe o quanto ela sofre com as notícias
ruins que vêm de todas as partes do mundo, como a fome em Biafra, a violência
no Paquistão, a crise nas bolsas asiáticas. Ah, sim, lógico, Dona Esmeraldina
possui muitas bolsas e essa questão das bolsas a toca com intensidade
naturalmente maior. “Mas, fazer o que, não é, minha filha: quem não tem cão,
dança no mato”, diz ela, resignada, acompanhada por um longo suspiro.
A Dona Esmeraldina é assim: ela
subverte sem querer os ditados populares e acaba criando novas metáforas, na
maioria das vezes, de difícil compreensão, mas que, para ela, caem como uma
luva sobre um espinheiro, tá me entendendo? Ao receber, de quando em vez, em
sua sala de estar repleta de almofadas turcas, este humilde servo das letras
para o café da tarde, ela não se furta de, antes do caloroso, cheiroso e fofo
abraço, exclamar; “ah, que bom revê-lo, quem é vivo sempre desaparece”! Mesmo
com a lógica inversa, ela não deixa de ter razão, uma vez que, conforme reza a
natureza, só haverá de desaparecer quem vivo for.
E ao longo da animada conversa
regada a chás orientais, croissants, madeleines e macarons (onde será que ela
consegue macarons?), vão surgindo as pérolas. “Antes só do que desacompanhado”,
fulmina, ao defender as benesses dos momentos de introspecção, quando se
recolhe a seus aposentos para ler Paulo Coelho. “Só se fala em outra coisa”, ao
compartilhar democraticamente a fofoca mais badalada da semana. “Quem confere a
fera, confere, será ferido”, prognosticando coisas horríveis a se sucederem
contra quem pratica despudoradamente a maledicência alheia. E, quando tudo dá
errado, frustrando seus planos, exclama, desolada: “é a Lady Smurf”,
provavelmente tentando fazer alusão a alguma súbita onda de azar matreiramente
jogada contra ela pela duendezinha azul dos desenhos animados, a Smurfete. Não?
A senhora acha que não é isso? Ah, conhece a Dona Esmeraldina? Então a senhora
sabe bem do que estou falando...
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