O Ministério das Crônicas
Mundanas (Microm) adverte: pais, não leiam esta crônica a seus filhos; avós,
não a leiam a seus netos; tios, não a mostrem a seus sobrinhos; padrinhos,
afastem dela seus afilhados; professores, retirem-na das salas de aula. Sim, porque
a mundana crônica de hoje contém informação chocante imprópria para menores de
seis anos de idade. Maiorzinhos (tipo dos sete aos 15) já estão teoricamente aptos
a começar a lidar com as decepções que a vida enfileira, mas, mesmo assim, se
forem lê-la, melhor fazê-lo acompanhados de adulto responsável. Já os adultos,
responsáveis ou não, estão sujeitos à própria sorte e leiam por sua conta e
risco, se assim o ditar a inegociabilidade de sua curiosidade.
Não, madame, fique tranquila,
não vamos falar aqui do Papai Noel, nem do Coelhinho da Páscoa, muito menos do motorista
cordial e do homem civilizado, essas coisas que a gente descobre que não
existem assim que se abandona o bico. Nós vamos falar é do Homem-Aranha. Como
é? A senhora acha baboseira todo esse introito só para vir com a informação de
que o Homem-Aranha não existe, coisa que seu netinho de quatro anos já afirma
quando veste a máscara do escalador de paredes e anuncia que aquilo é “só de
brinquedo”, com o intuito de tranquilizar toda a família? Mas não é isso,
madama. Que o Homem-Aranha não existe, isso até meu afilhadinho de também quase
quatro anos já sabe. O furo é mais embaixo, está mais enredado. Veja no
parágrafo a seguir.
O problema, madame, não é que o
Homem-Aranha não existe. É que cientistas norte-americanos, em conjunto com
cientistas britânicos (veja o peso da coisa), anunciaram esta semana em uma
publicação científica, após exaustivas pesquisas, provando por A mais B (e
parece que até o C está envolvido na coisa), que o Homem-Aranha não só não
existe como (agora vem) não pode e nem poderá existir. O Homem-Aranha, senhores
pais e responsáveis, não pode cientificamente existir porque nenhum ser maior
do que uma lagartixa (diz a pesquisa, li isso na notícia) é capaz de possuir
e/ou desenvolver a aderência necessária para caminhar na vertical em paredes ou
nos tetos, ao redor do lustre da sala.
Ou seja: seu netinho até pode
saber que o Homem-Aranha não existe. O que ele pode não estar preparado para
saber é que nem ele, nem ninguém, poderá vir a se transformar no Homem-Aranha.
Nosso horizonte humano de heroísmo ainda se restringe ao âmbito do exercício
diário da cidadania mesmo. Fazer o quê?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de janeiro de 2016)
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