Dia desses comentei aqui a
respeito da profissão de carteiro, que está em vias de extinção em função do
estabelecimento definitivo da comunicação virtual nas relações humanas, em
detrimento do envio físico de cartas, documentos, faturas, mensagens, cartões
de felicitações, cobranças, xingamentos etc. Parei para refletir sobre isso em
decorrência da leitura (pela internet, claro) de um relatório divulgado por um
instituto de pesquisas norte-americano, que elencava as dez profissões que
sofrem maior risco de extinção nos próximos anos, devido a motivos diversos.
A de carteiro era só uma delas,
a que estava no topo da lista, mas tem outras nove. Em segundo vem a profissão
de agricultor. Deve-se levar em conta que a lista se debruça sobre a realidade
dos Estados Unidos, onde o processo de mecanização dos trabalhos nas lavouras e
nos campos avança em ritmo acelerado, transformando em quase realidade a antiga
máxima de que “é o olho do dono que engorda o boi no pasto”. Logo, caberá aos
seres humanos apenas ficarem olhando mesmo para o pasto, sem terem de fazer
nada. Um quadro assim ainda levará muito tempo para se tornar realidade no
Brasil, mas, como gostamos de imitar os americanos em tudo, é bom ficarmos
atentos...
Na sequência vêm as profissões
de leitor de medidores (aferição que passará a ser feita automaticamente pelas
empresas fornecedoras de água, luz, gás); repórter de jornal impresso (aí entro
eu, jornalista focado justamente na mídia impressa; em alguns anos, deverei
estar empalhado e preservado em algum museu histórico, exposto à visitação
pública, de bloquinho e caneta à mão); agente de viagens (você vai organizar
por conta própria, de casa, via internet, todo o seu pacote de viagem);
lenhador (óbvio, com a extinção das florestas, quem vai cortar o quê?);
comissário de bordo (voaremos desacompanhados das aeromoças no futuro);
operador de furadeira (isso nas indústrias automatizadas; aqui em casa,
continuo furando eu mesmo as paredes para os quadros); funcionário de gráfica
(de novo a automatização) e fiscal de impostos (não, nada a celebrar: os
impostos continuarão sendo cobrados e seu pagamento devidamente fiscalizado,
mas por programas de computador).
Frente a esse quadro todo,
procuro alguns alentos. Enquanto houver flores e jardins, não se extinguirá a
profissão de florista. Enquanto houver sensibilidades entre as pessoas, não
desaparecerão as atividades dos artistas. E enquanto houver cabelo e barba, não
sumirão os barbeiros, para o bem de nosso visual em sociedade. E enquanto
houver sol, haverá lugar para os otimistas, mesmo que isso não seja profissão.
Ao menos, é profissão de fé.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de julho de 2014)
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