Cada um com seus gostos, já
dizia Não-Sei-Quem fazendo não-sei-o-quê. Você tem os seus, eu tenho os meus, e
às vezes as coisas convergem. Assim é a vida, um entrelaçamento interminável e
imprevisível de pontos de convergência que aproximam uns aos outros, e de
divergências, que nos afastam. Nas aulas da quarta série frente ao
quadro-negro, essa premissa profundamente filosófica já podia ser antevista por
nossos olhinhos esbugalhados (fazendo coro aos joelhos esfolados e os pés que
balançavam no ar na carteira sem ainda tocarem o chão) quando a professora
coloria com giz amarelo aquela fatia duplamente convexa que surgia do
entrelaçamento de duas esferas ali desenhadas, chamada “intersecção”. Eu era
fascinado por intersecções.
Mas tergiverso, percebo-me, e
antes que me perca irrecuperavelmente pela senda do devaneio, tragamo-nos de
volta ao que pretendia discorrer ao dar início a essas mal tecladas linhas. Falava
de gostos. E com isso, tinha a intenção de compartilhar com o tolerante e
compreensivo leitor mais uma de minhas preferências que, dependendo da forma
como as abordo, acabam se revestindo com uma película nem sempre deliberada de
esdrulixidade (palavra recém-nascida que pretende passar a sensação de
“qualidade daquilo que é esdrúxulo”). Adiante.
Falava de gostos para então
revelar o fato de que aprecio muito as listas. Gosto de fazer listas de todas
as espécies, sobre todas as coisas e, por paralelismo e coerência, gosto também
de ler listas. Sempre que surge uma lista do que quer que seja nos sites pelos
quais navego, paro, clico, acesso e bisbilhoto. Não consigo evitar de fazê-lo.
E nem tento, confesso. Entrego-me ao doce prazer de saborear listagens sobre
tudo: as dez músicas de rock mais bacanas do planeta (discordo de várias,
irrito-me com as ausências, produzo minha própria lista); os dez melhores
escritores do sistema solar (discordo de vários, irrito-me com as ausências,
produzo minha própria lista); as dez melhores receitas para fazer com salmão
defumado (anoto tudo, porque nunca fiz nenhuma receita com salmão defumado na
vida) e assim vai.
Mas a lista que li na internet
esta semana me deixou triste. É uma lista elencando as dez profissões que estão
em vias de extinção no mundo moderno. Começa pela de carteiro. A cada ano que
passa, diminui o número desses profissionais no planeta, porque seus braços e
pernas percorrendo fisicamente distâncias para nos entregar cartas estão sendo
suplantados pelo uso cada vez mais corrente do correio eletrônico. Acho uma
pena. Vejo romantismo e poesia na atividade dos carteiros e estamos
assassinando a profissão a cada e-mail que disparamos. Leitores: salvemos os
carteiros. Não me enviem e-mails divergindo ou convergindo. Enviem-me cartas!
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