Antes de ser jornalista, sou um auxiliar de laboratório de análises químicas.
Minha formação secundarista habilitava-me a atuar profissionalmente nessa área
específica e transitar no fascinante mundo dos laboratórios químicos, a
desempenhar nem lembro quais funções.
Mas larguem-me sozinho e saltitante dentro de um laboratório de análises
químicas e causarei estragos. Não tenho a menor habilidade para manusear
buretas, pipetas, cadinhos, tubos de ensaio e coisa e tal. Não tardei a perceber
que minhas aptidões vocacionais residiam nas áreas humanas e não nos laboratórios
(para alívio de toda a humanidade) e fiz-me jornalista, cronista e escritor.
Virei um alquimista das letras e o planeta livrou-se de um perigoso alquímico
desastrado.
O segredo disso tudo reside na capacidade (e na responsabilidade) que
temos de descobrir nossas verdadeiras vocações a tempo de evitar frustrações e cometer
erros que prejudiquem a nós próprios, aos outros e à sociedade. O mundo a meu
redor é mais seguro tendo a mim enjaulado em salas escrevendo, ao invés de
pirilampeando desgovernado dentro de um laboratório, com as mãos e os braços
balançando para todos os lados, como um polvo desequilibrado.
A moral da história é que devemos não só reconhecer nossas próprias
habilidades e vocações, mas principalmente aprender a delegar, aos que forem
melhor habilitados, a realização das tarefas para as quais não temos nenhuma
aptidão. É o que fazemos quando vamos às urnas, votar nas eleições. Estamos
ali, naquele momento, delegando poderes para que pessoas habilitadas legislem e
governem em nosso nome, e assim, bem governados, possamos nos dedicar aos
laboratórios, à escrita, às nossas atividades em geral.
Mas o que fazer quando alguns candidatos não possuem tais habilitações
para nos representarem nos âmbitos da governança e da legislatura? Primeiro,
não votar neles. Depois, se votados forem, devemos lembrar que não há mal que
não possa ser remediado. Devemos e podemos nos livrar dos polvos loucos
desgovernados que pirilampeiam pelo mundo da política no país, em todas as
esferas.
Claro que ameaçar trancá-los dentro de um laboratório comigo lá dentro
chacoalhando as pipetas não chega a ser uma solução e soaria sinistro. Melhor
mesmo é puxarmos para nós a responsabilidade pela escolha correta, bem como
assumirmos a postura de cidadãos participativos que acompanham o trabalho
daqueles a quem delegamos poderes pelo nosso voto. Nessa hora, cada um de nós,
com o título de eleitor na mão, representa um técnico responsável pela
escalação da seleção de políticos que atuarão no país ao longo do próximo
período. Precisamos evitar os fazedores de gols contra.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de julho de 2014)
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