Sabe aquela sensação de estar
com a cabeça enfiada dentro de um aquário (mas sem a presença do peixe, graças
a Deus)? Pois é, foi me sentindo exatamente assim que eu saí da cama ontem de
manhã. O quê? O senhor não sabe patavinas do que estou falando, uma vez que
nunca vivenciou a experiência de enfiar a cabeça dentro de um aquário, com ou
sem peixe? Bom, então vou entrar em detalhes, afinal, quando se escreve e se
publica uma crônica, faz-se mister que seja-se compreendido (“fazer mister”
equivale a “é necessário”, e explico porque hoje estou explicante).
A sensação de estar com a cabeça
dentro de um aquário equivale a sentir-se meio zonzo, aéreo, com os sentidos
todos em estado de aguçamento excessivo, em especial a audição e a visão (mais
ou menos como deve ser o usual para o Super-Homem, que dizem possuir
superaudição e supervisão, o que, convenhamos, deve ser um inferno). Tudo ecoa
e ressoa mais alto e as cores são excessivas, ferindo o olhar. É um sentimento
de claustrofobia imanado de dentro para fora, se é que assim me faço entender
melhor. Não? Pior ainda? Bom, quando as comparações e metáforas não funcionam,
o único jeito é partir para a prática mesmo.
Não, senhor, calma, não estou a
sugerir que o senhor vá ao centro da cidade adquirir um aquário para enfiar a
cabeça dentro, eu não seria deselegante a esse ponto. Muito menos elegante
seria o senhor se o fizesse, e se decidisse fazer pior, que seria invadir a
loja de artigos para peixinhos, ir abrindo caminho entre mães e crianças que
escolhem entre os nadadores dourados e os azuis e vermelhos, para ir mergulhar
a cabeça (o chapéu já retirado, em mãos... ah, o senhor não usa chapéu, pois
bem) dentro de um dos aquários do mostruário, de preferência vazio. Não, nada
disso, não se ofenda. Desnecessário ir tão longe.
Como? Se eu já enfiei a minha
própria cabeça dentro de um aquário, para sair escrevendo uma asneira dessas?
Pior é que também não, leitor amigo, nem eu, tampouco, já cometi uma
imbecilidade dessas, uma das poucas que ainda não cometi, admito, para o bem da
verdade histórica a respeito de mim mesmo. Então por que escrevo isso? Ora,
porque foi a forma mais aproximada que imaginei ser capaz de repassar ao leitor
a sensação horrorosa que se abateu sobre mim, devido a uma longa madrugada de
insônia.
O problema é que as palavras e
as imagens e as metáforas nunca são suficientes para transmitir com exatidão
uma sensação. Este texto, ao menos, poderá servir como prova para essa tese,
sempre que isso se fizer necessário. Prazer foi meu, em poder colaborar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de julho de 2014)
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