O que você faz quando lê uma
notícia informando que cientistas italianos, depois de demoradas e minuciosas
pesquisas, concluíram que o consumo de maçã incrementa a vida sexual das
mulheres, proporcionando-lhes níveis mais elevados de excitação e satisfação?
Bom, se você é mulher e anda insatisfeita com a qualidade de sua vida sexual,
suponho que vá correr para a feira adquirir um punhado de maçãs a fim de fazer
o teste em si própria. Creio também que, se você for uma mulher já plenamente
satisfeita com o andamento de sua vida sexual, é capaz até de comer uma que
outra para ver se a frutinha produz em você um efeito equivalente ao que uma
pílula de viagra exerce em alguns homens, só por curiosidade.
Mas se você for homem, acredito
que, ao ficar cônscio dos poderes afrodisíacos da até então inocente e pacata
maçã, irá voando entupir sua parceira com nacos saborosos da fruta,
empanturrado de primeiríssimas intenções. Ah, detalhe: é fundamental, dizem os
tais pesquisadores, que se consuma a maçã com a casca, porque é na casca,
pessoal (atenção, aí no fundo), é na casca que residem as substâncias
responsáveis por operar o milagre nelas.
E se você for, assim como eu, um
homem que, ainda por cima, é cronista de jornal? O que você fará com a notícia?
Ora, você vai imediatamente pensar com os seus botões: “hum, que interessante,
botões, isso rende crônica”, e colocará dedos à obra. Sem perder mais tempo,
você, o leitor-cronista, vai se arremessar ao computador para começar a
produzir um texto engraçadinho que terá como base a ligação imediata, que é
impossível evitar fazer, entre o que foi noticiado quanto aos poderes sexuais
da maçã sobre as mulheres e a história bíblica de Adão e Eva lá no Jardim do
Éden, quando justamente Eva, com a intenção de tentar Adão, presenteia-o com o
quê? Quem lembra? Quem prestou atenção no dia dessa lição nas aulas de
catequese? Com uma maçã, isso mesmo, muito bem, palmas para o senhor de óculos
e cavanhaque ali no meio!
Então, se é assim, por que diabos
este cronista aqui que vos escreve não fez exatamente isso? Simples: porque não
é possível fazê-lo sem incorrer em erro histórico e crasso. Folheando a Bíblia
no livro do Gênesis, lá onde consta a história de Adão e Eva, percebe-se que em
momento algum o texto bíblico faz alusão explícita a uma maçã. O que consta ali
é que Eva colheu um dos frutos proibidos da Árvore do Conhecimento, instigada
pela serpente, mordeu um pedaço e ofereceu outro a Adão. Mas não fala em maçã.
Impossível fazer a crônica sob essa ótica. Estou ralado, e agora? Ficamos sem
crônica...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de julho de 2014)
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