A julgar pela qualidade dos
debates, pela pertinência dos temas abordados e pelo público que lotou as
dependências que sediaram os encontros (a Livraria e Café Do Arco da Velha e o Zarabatana
Bar, do Centro de Cultura Henrique Ordovás Filho), pode-se afirmar que foi
brindada com sucesso a segunda edição da “Semana do Livro Nacional”,
programação de discussões literárias realizada entre quinta e domingo passados,
promovida pelos apaixonados por leitura Samuri José Prezzi, Greice Martinelli e
Suzy Hekamiah. Reunindo escritores locais, editores, entidades e grupos
voltados à literatura e, principalmente, apaixonados por livros, o evento
consolida lugar entre as iniciativas que constroem em Caxias do Sul um cenário
pulsante privilegiado no âmbito da arte da escrita.
Uma vez que a literatura,
enquanto manifestação artística, traz em sua essência intrínseca a capacidade
de representar o mundo e suscitar a reflexão a respeito da existência humana,
não poderia ser outro o efeito nos participantes senão o de voltarem para suas
casas abastecidos de temas para refletir. Entre vários pontos, estacionei em
uma questão levantada por um trio de debatedores que ajudou a abrilhantar a
tarde de sábado, quando os jovens escritores César Filho, Fernando Bins e Suzy
Hekamiah debateram o tema “Literatura Gótica e de Terror”. Conforme
compartilharam com o público, um dos maiores desafios que se impõem hoje aos
autores de histórias de terror é como causar genuinamente a sensação de medo
nos leitores, uma vez que vivemos em um mundo em que o horror e o espanto são
causados pelo próprio cotidiano da vida real?
Boa e pertinente pergunta. Como
competir com a realidade? Como conceder a vampiros, lobisomens, múmias,
mortos-vivos, fantasmas e demônios o poder de voltarem a arrepiar as penugens
de nossos pescoços quando os calafrios nos são provocados diuturnamente pela
ação de corruptos de todos os naipes que desviam verbas públicas destinadas à
saúde e à alimentação para seus próprios bolsos, ou de criminosos que destroem
o futuro de gerações traficando drogas cada vez mais letais, ou de assassinos
transtornados pelo crack que nos espreitam na chegada de casa dispostos a matar
a troco de qualquer coisa que lhes sustente o acesso ao vício, ou do
descompromisso de autoridades que deixam as estradas se transformarem em
ciladas esburacadas a ceifarem as vidas das famílias e dos trabalhadores e
muitos outros monstros e atos monstruosos que se acotovelam nos noticiários da
vida real todos os dias?
Quem diria, mas Frankenstein e
Drácula, no século XXI, se tornaram brincadeira de criança.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de julho de 2014)
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