Esta semana de julho que se
iniciou na sexta-feira passada pegou pesado na tarefa de empobrecer o cenário
cultural e intelectual brasileiro. A julgar pelo foco que “A Ceifadora” apontou
em sua foice colhedora de existências, pode-se concluir que andava faltando
mentes brilhantes lá do “outro lado” e que foi expedida a ordem de vir aqui
buscar uma remessa farta e qualitativa do produto.
Como resultado disso, estamos
tendo de assimilar de uma vez só as partidas de três importantes e
insubstituíveis nomes da cultura contemporânea brasileira, um atrás do outro.
Na sexta-feira da semana passada, dia 18, chegou-nos a notícia da morte
repentina do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, aos 73 anos de idade,
acometido em casa por uma embolia pulmonar. Membro da Academia Brasileira de
Letras, Ubaldo assinou obras que integram o seleto time dos clássicos
brasileiros da atualidade, como “Sargento Getúlio”, “O Sorriso do Lagarto”, “A
Casa dos Budas Ditosos”, “Viva o Povo Brasileiro”, entre outras.
Mal começávamos a assimilar a
dimensão dessa perda e, já no dia seguinte, 19 de julho, segue-lhe o mesmo
caminho o educador, teólogo e escritor mineiro Rubem Alves, aos 80 anos de
idade, por falência múltipla dos órgãos. Alves era vencedor do Prêmio Jabuti de
Literatura e asfaltara uma longa carreira de vida dedicada a refletir sobre
temas psicanalíticos, educacionais e existenciais. Um intelectual de primeira
linha, atuante e que fazia a diferença. Deixou extensa obra literária que
aborda as questões filosóficas que tanto lhe absorviam e também uma vasta
produção destinada às crianças, a quem dedicava especial atenção.
Agora, a quarta-feira desta
semana, dia 23, é chacoalhada com a morte do escritor paraibano Ariano
Suassuna, aos 87 anos, devido a um acidente vascular cerebral. Também integrava
a Academia Brasileira de Letras, tendo se dedicado ao romance, à poesia, ao
ensaio, à dramaturgia. Sua obra mais conhecida é a peça teatral “Auto da
Compadecida”, que foi encenada diversas vezes e virou filme.
Espero que pare por aí, ao
menos, momentaneamente. Fico sempre possuído por uma sensação de esvaziamento
pesado quando desaparecem de nosso convívio essas figuras referenciais da cultura
que fazem tanto a diferença. Claro que suas obras permanecem e seguirão fazendo
a diferença sempre que revisitadas, mas o ponto final de suas existências
define o fechar da porta da produção que advém de suas lavras, o que sempre é
uma pena. Assim como cada um de nós, são todos obviamente insubstituíveis. São perdas bem mais significativas do que um
sete a um em Copa do Mundo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de julho de 2014)
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