Mas que coisa mais triste essa
história da retirada dos tais “cadeados do amor” lá daquela ponte em Paris, que
a imprensa noticiou esses dias, vocês não acharam, hein? Eu achei! O quê? Como
é, minha senhora? A senhora não está entendendo lhufas de que raios eu estou
falando? Bom, então senta aí que eu explico, porque cronista que se preze não
pode ficar escrevendo sem ter a certeza de que todos os seus leitores estão
acompanhando. Então, façamos assim: quem sabe do que se trata vai dar uma
voltinha no tempo de um parágrafo, que é o que eu preciso para explicar para a
madama ali do que se trata, e depois retornem que a gente continua juntos, tá
bom assim?
Ok, vamos lá. Então, senhora, é
o seguinte. Existe lá em Paris, a Cidade Luz, capital da França, uma ponte
chamada Pont des Arts. É uma ponte antiga, construída no século 19, que ficou
famosa porque, de uns anos para cá, os enamorados vindos de todas as partes do
mundo, ao chegarem em Paris, cidade encantadora, charmosa, na qual o amor está
no ar, começaram a criar o hábito de, ali nas grades de proteção da ponte,
engancharem cadeados com as iniciais de seus nomes gravadas, a fim de
eternizarem suas paixões. Um ato simbólico em nome do mais lindo sentimento que
duas pessoas podem nutrir uma pela outra, a senhora sabe como é, né?
Só que, senhora – e nos
apressemos aqui que o parágrafo já terminou e o pessoal está voltando – a
cadeadança começou a ser tanta, mas tanta, coisa assim dos milhares, sabe, que
a estrutura da ponte estava ficando comprometida. Sim, a Pont des Arts corria o
risco de desabar devido a tanto amor! Mas aí a prefeitura de Paris resolveu
acabar com a festa e mandou arrancar fora os cadeados todos, sejam eles os
recibos de amores vindos do Ceilão ou da Patagônia, de Itacurubi ou de
Madagascar, não interessa. Tudo fora.
Sim, senhora, triste, comovente,
mesmo. Fiquei pesaroso e preocupado não com o destino dos cadeados, mas sim quanto
à manutenção das paixões que eles representam ao redor do mundo. A senhora
tinha cadeado lá com as suas iniciais gravadas nele, senhora? Não? Ah, tem
razão: amor que é amor resiste a qualquer baque, igual à estrutura da ponte. A
metáfora, então, estava na ponte, e não nos cadeados. Puxa, é verdade! A
senhora tem visão de cronista, minha senhora...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de junho de 2015)
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