Nunca é muito tarde para
aprender e nunca se é velho demais para absorver uma nova informação que possa
vir a colorir um pouco mais a vida, trazer um pingo novo de poesia aos pequenos
atos do cotidiano. E por mais obtuso que se possa ser, sempre haverá a
possibilidade de, em um súbito lampejo, as pesadas comportas de aço da
inteligência se abrirem em seu cérebro para deixar esgueirar-se uma réstia de
luz que lhe iluminará uma compreensão reveladora. Uso a mim mesmo como exemplo
para comprovar todas essas teses, uma vez que já sou bem vivido em anos e
cultivo lá as minhas diversas obtusices (existe “obtusices”, no sentido de
conjunto de ideias obtusas, será?).
Vamos ao exemplo. Um exemplo
prosaico, sutil, decorrente dessas tais pequenas insignificâncias do cotidiano
que tão bem servem às demandas de um cronista diário, como não poderia deixar
de ser, já que usarei a mim próprio de exemplo, conforme acertado com o leitor em
linhas anteriores (eu queria me pavonear um pouco e escrever “em supracitadas
linhas”, mas como não sei se, na paginação do texto na folha impressa do
jornal, as tais linhas ficarão realmente acima destas ou na colunagem ao lado,
evitei de fazê-lo e tasquei mesmo um singelo “linhas anteriores”, bem menos
poético mas mais verossímil). Mas voltando a mim mesmo e deixando de lado as
intercalações, quero tratar de croissants. No próximo parágrafo, a revelação,
pois que este já se estende em demasia de linhas.
Eu, que não sei nada de francês
além de “merci”, mesmo assim adoro saborear um delicioso croissant, e devoro-os
de vez em quando sem saber exatamente o que estou comendo. “Ora, você está
comendo um croissant”, me dirá a atilada leitora. Sim, é verdade, mas ontem
descobri que o recheio é mais embaixo, e bem mais poético do que meramente
isso. Descobri, depois de velho e sempre obtuso, que a palavra “croissant”
significa “crescente” em francês, tendo assim batizado o acepipe devido a seu
formatinho de lua crescente (a pista residia na vizinhança latino-americana,
onde o mesmo acepipe se chama “media luna”, asno desatento que sou). Agora, folheado
que estou de conhecimento, nunca mais saborearei um croissant da mesma forma
que antes. Agora, faço-o com muito mais poesia a cada mordida, pleno daquela
poesia sutil que emana da lua. O conhecimento, mesmo que tardio, sempre é
transformador.
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