Eu pergunto: quem não gosta de
ver uma goleada? Eu respondo: somente aqueles que sofrem a goleada. Mas
independentemente do lado em que você se posiciona (no do goleador ou no do
goleado), a goleada em si sempre é revestida de beleza. A beleza da goleada. Poderíamos
cunhar uma nova figura de linguagem: “belo como uma goleada”.
Aquela dos sete a um metidos
pela seleção da Alemanha contra as redes da seleção brasileira na última Copa
do Mundo, por exemplo, não foi linda de se ver? Triste e humilhante para nós,
brasileiros, mas que foi bonita de se ver, ah, isso foi, porque, depois do
terceiro, do quarto, do quinto gols, todos passamos a nos identificar mesmo era
com os goleadores, no papel de quem desejaríamos estar. Porque é bom meter uma
goleada. Lava a alma, exorciza o íntimo, alivia os pesos. Goleada tem papel
purgativo.
Quem protagonizou um linda goleada
histórica no Brasil esta semana foram os nove ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF), que meteram nove a zero sem dó nem piedade, derrubando por
unanimidade a pretensa necessidade de autorização prévia para a publicação de
biografias não-autorizadas em formato de livro ou de audiovisual. Ou seja,
tinha gente querendo (e até então estavam conseguindo) que vigorasse no país a
censura prévia à publicação de biografias de pessoas famosas, o que é um claro
atentado antidemocrático à liberdade de expressão, direito, aliás, já garantido
pela Constituição Federal. Mas agora, em uma atitude exemplar e que nos enche
de orgulho (ao menos a nós, cidadãos brasileiros que defendemos a liberdade e
somos contra qualquer tipo de censura), o STF consolida, na expressão de uma
das ministras, o fato de que, no Brasil, ditadura é coisa do passado e o “cala
a boca já morreu”, mesmo.
Censura prévia existe é na
China, no Irã e em Cuba, países onde “democracia” e “liberdade” são expressões
proibidas e passíveis de levar cidadãos à cadeia e até à pena de morte. Aqui,
não, jacaré. Se os senhores Roberto Carlos, Caetano Veloso e Chico Buarque
(propositores e defensores da censura prévia às biografias) se sentirem
atingidos pelo que for escrito e publicado, que procurem seus direitos junto à
Justiça, que está aí justamente para isso. Mas não venham me dizer o que eu
posso ou não posso dizer e escrever. O STF afastou da gente o cálice da
censura, felizmente.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de junho de 2015)
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