É preciso encontrar assunto para
compor uma crônica por dia, todos os dias, quando se é cronista diário de um
veículo de comunicação diário como é o caso deste cronista neste veículo, o
jornal Pioneiro. Há aqueles assuntos que saltam no colo do cronista porque
estão na pauta do dia, porque “só se fala em outra coisa”, como diz um amigo
meu lá de Nova Bréscia. Temas que não podem ser ignorados e que ficam
martelando na cabeça. Esses são fáceis, surgem logo e basta encontrar um viés
diferente a ser abordado e pimba: está pronta a crônica, basta levá-la ao forno
por trinta minutos e servi-la aos leitores.
Mas o que fazer quando o dia
amanhece como sendo um daqueles em que nenhum desses temas escaldantes pipoca e
nada salta ao colo do desolado e solitário cronista? Ora, elementar, meu caro
leitor: o cronista, que não nasceu ontem (cronistas que se prezem precisam ter
nascido já há algum tempo, sob o risco de escreverem crônicas imberbes), sempre
tem guardado em um saquinho (eis aí uma revelação) um punhado de papeizinhos
contendo anotações que podem vir a servir de tema para crônicas quando a
inspiração estiver falhando. É assim que funciona.
Dia desses, por exemplo, tive de
lançar mão ao tal do saquinho, guardado no fundo de uma das gavetas da
escrivaninha (“percebi desde o princípio”, devem estar pensando os leitores
mais atilados, desde o início da leitura destas mal-digitadas linhas de hoje). E
aí fui abrindo os papeizinhos um a um, na busca de algum tema que me inspirasse
algo, até me deparar com um que dizia assim: “passamos a vida inteira
empenhados em mover os objetos de um lado para o outro em nossas casas, já que
objetos são imóveis”. “Ahá, eis um tema para tecer uma típica crônica de
cotidiano! Vamos lá”, pensei eu, e lá fui eu!
Bastava calçar os chinelos e...
Epa, cadê o pé direito de meu chinelo de lã? Sumiu! Não teve jeito, desapareceu
por completo durante a calada da noite, deixando só, ao lado da cama, o pé
esquerdo, que me conduziu, mancando, até o computador, de onde pus-me a digitar
esta que agora leem. Já o pé direito do chinelo apareceu mais tarde dentro da
máquina de lavar roupas, para onde havia se dirigido ninguém sabe como,
deitando por terra minha teoria de que objetos não se movem e eliminando uma
possibilidade de boa crônica. Assim fica difícil...
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