Este cronista que vos escreve
não é nenhum modelo de virtude inexpugnável passível de servir de exemplo de
nada a ninguém, ele bem sabe disso, e é por isso que se exime de ficar aqui
utilizando estas mal-digitadas linhas para tecer conselhos de conduta a quem
quer que seja, a fim de evitar transformar-se em alvo de críticas do tipo “faça
o que ele diz, mas não faça o que ele faz”, essas coisas. Ciente disso, prefere
o cronista em questão dedicar-se à prática dos desaconselhamentos úteis, ou
seja, ao invés de aconselhar, já que não possui habilitação para dar conselhos
a ninguém, mesmo porque conselhos, se bons fossem, vendidos seriam, e não dados,
como bem sabe o vulgo, melhor então oferecer ao leitor o outro lado da moeda,
que talvez lhe possa vir a ser útil por vias inversas, se é que me faço
entender nestas já citadas mal-digitadas e agora longas-de-morrer linhas.
Vamos então ao desaconselhamento
do dia. Trata-se de um desaconselhamento específico, porque também não vamos
aqui enfileirar desaconselhos porque daí a coisa descamba para o exagero e
ninguém absorve nada. Desaconselho, então, o leitor a fazer o que fiz e, por
experiência vivida e sofrida, é que digo: não faça em casa se você não estiver
com mais tempo do que imagina; não faça em casa se você não se certificar de
que está com toda a sua louça devidamente limpa e pronta para uso total e
imediato (isso inclui panelas de todos os tipos, todos os talheres, caçarolas,
coadores e até o saca-rolhas, porque nunca se sabe); não faça se você não tiver
espaço para ir empilhando a louça suja; não faça se você não tiver ingredientes
no dobro da quantidade pedida pela receita, porque o erro exigirá meter tudo
fora e reiniciar o processo; não faça se você não contar com alguém que o
ajude, porque serão necessárias pelo menos quatro mãos em ação; não faça se
você estiver propenso ao mau humor nesse dia; não faça se estiver
verdadeiramente com muita fome. Se depois disso tudo, mesmo assim optar por
fazer, faça, mas depois não venha me dizer que não desaconselhei.
Terminada a crônica, com licença
que preciso lavar a montanha de louça de ontem à noite, quando, desavisado,
meti-me a fazer pela primeira vez na vida a clássica receita de ovos
beneditinos. Malditinos, isso sim. Ninguém tinha me avisado antes...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de junho de 2015)
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