Daí, em meio à crise econômica
que é uma das piores da história recente; em meio ao aumento da violência
urbana que oferece um cardápio de renovados horrores a cada dia que passa; em
meio ao esfacelamento das regras básicas de convívio em sociedade; em meio ao
moedor de carne que se transformou o trânsito de veículos nas ruas e nas
estradas do país; em meio à porteira escancarada para a corrupção em todas as
esferas possíveis e imagináveis, em meio a tudo isso, o olho bate naquelas
notícias que tendem ao inusitado, claro, porque, convenhamos, é preciso um
refresco para amenizar a temperatura interna que sobe frente a tanto
descalabro.
Daí que então fica-se sabendo
que a má notícia agora vem lá da Nasa, a Agência Espacial norte-americana,
cujas preocupações não se voltam às misérias enfrentadas por um país de
periferia como o Brasil, mas que volta os olhos e os esforços para questões
mais estratosféricas, digamos assim, para não perder a mão na tendência de
tentar encontrar trocadilhos e metáforas afins. A Nasa, pelo jeito, também não
anda passando lá por uma de suas melhores fases, a julgar pelo que nos mostra a
imprensa internacional. Agora, dia desses, andou falhando pela segunda vez o
teste que a cientistada fez para botar em ação um pára-quedas gigante que
permitiria, caso funcionasse direito, que se alcançasse a suavidade necessária
de pouso para futuras naves que deverão rumar a Marte nas próximas décadas
(provavelmente repletas de brasileiros fugindo da terra de ninguém em que isso
aqui está se transformando).
Dessa vez, o tal pára-quedas
tamanho família parece que não abriu direito e o protótipo de nave espatifou-se
em algum deserto escolhido para testes nos Estados Unidos. Na tentativa
anterior, parece que houve um rasgo que resultou também em espatifanças. Eles
que acertem esse negócio, porque, antes disso, eu é que não entro em nave
alguma rumo a Marte assim tão cedo. Mas bem que gostaria. Ah, gostaria. Porque a
coisa aqui em baixo está ficando danada, e os marcianos que se preparem porque
vamos invadir a praia deles logo, logo. Assim que organizarem esses pára-quedas
aí, eu entro na fila com toda a obra do Balzac em baixo do braço (não cabe sob
apenas um braço, terei de levar em um carrinho ou daunloudada no ipad), me
estabeleço dentro de uma cratera marciana que será só minha e tchau e gracias.
Mas, enquanto isso...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de junho de 2015)
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