O mundo seria pequeno demais,
tosco demais, árido demais, rústico demais, absurdo demais, selvagem demais,
angustiante e opressor demais, infeliz demais, triste demais, pesado demais,
impraticável e sem sentido se não fosse a Poesia. A Poesia é o sopro que areja
a existência de tudo, é o bálsamo que lubrifica o atrito entre as engrenagens
que compõem o mundo, é a panaceia vital capaz de permitir o fluir da seiva
intangível que confere, se não sentido, pelo menos o conforto e o aconchego
necessários para que o peso do existir tenha leveza e possa alçar do solo duro
os pés que, então, ganham como que asas. A Poesia permite voar e transcender as
limitações do corpo, tocando sutilmente os intransponíveis limites da
eternidade.
A Poesia redime a Vida e
domestica a Morte, já que esta não pode ser vencida. Domestica e ludibria,
porque, a partir de seus frutos, que são as Artes, consegue manter viva a chama
do Poeta por meio da permanência de suas Obras na Memória coletiva. Enquanto
houver quem cante o canto do Poeta, enquanto houver quem leia suas linhas, quem
contemple suas telas e esculturas, quem escute a sua música e a sua voz, quem
assista às suas encenações e produções visuais, quem viaje em suas fotos, quem
reflita sobre suas propostas, a finitude seguirá sendo protelada e o pulsar da
Vida continuará achando caminhos para fluir como sangue vital por veias
infinitas.
A Poesia não se extingue junto
com o último suspiro do Poeta. Justamente por ter sido Poeta é que ele consegue
erigir em vida um castelo sólido de tijolos de brisa, amalgamado na argamassa
da criatividade e da inspiração, fundeado nas entranhas da alma e, por isso
mesmo, inabalável, irredutível e indestrutível. O Castelo da Obra do Poeta
permanece e permanecerá, porque foi construído em Poesia, a mais perene e
sólida matéria já concebida pelos deuses, pelos anjos e pelos homens. O Poeta
se vai e dele sentiremos imorredouras saudades. Mas amaciaremos essas saudades
contemplando a existência que fica, amparados pela Poesia que o generoso Poeta
nos deixa de legado. A ele, portanto, teremos sempre graças a dar. Temos de ser
gratos aos Poetas, de todas as Artes.
Entre eles todos, gratidão
especial ao escritor florense Flávio Luis Ferrarini, que desde a última
terça-feira transformou a si mesmo em eterna metáfora de Vida.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de junho de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário