Agora é tarde, mas eu deveria
ter sido cientista. Que jornalista o que, que cronista o que! Cientista, isso
sim, que eu deveria ter sido. Ganha-se mais como cientista em relação ao
jornalismo e ao cronismo mundano como esse que pratico, sem sombra de dúvidas,
mas a questão não é essa. A questão é que só agora tenho me dado por conta de
quão divertida deve ser a carreira de cientista, especialmente a dos cientistas
que se dedicam a estudar fósseis e as formas de vida estranhas e esdrúxulas que
habitavam esse nosso estranho e esdrúxulo planeta há dezenas de milhões de
anos, centenas de milhões de anos, até.
Porque, vejam bem, olhem só essa
maravilha de questão que li dia desses, percorrendo os sites noticiosos da
internet em busca de assunto para crônicas, eu, que cronista sou e preciso, por
dever de ofício, cronicar diariamente, diferentemente dos cientistas que,
desobrigados dessa operosa tarefa, apenas se debruçam sobre o esqueletinho de
um bichinho que viveu há trocentos anos e se botam a tecer teorias sobre eles.
Que delícia! Lá no Reino Unido, que é um habitat natural e criadouro de
cientistas, anda rolando uma discussão interessantíssima a respeito do fóssil
daquilo que descobriu-se tratar de uma minhoca de 500 milhões de anos.
Mas não é uma minhoca qualquer,
e, sim, uma surpreendente minhoca dotada de sete pares de patas, longos
espinhos cravados nas costas e uma fileira de dentes sorridentes na boca.
Minhoca com dentes! Isso explica a extinção de algumas espécies de peixes nos
rios pré-históricos, pois basta imaginar o que acontecia quando a minhoca
enfiada no anzol por Urgh, o primeiro pescador, era mergulhada no rio atraindo
a atenção de peixossauros... O peixossauro guloso aparecia e era imediatamente
abocanhado pela minhoca dentuça. Incrível.
Mas a discussão entre os
cientistas é mais profunda do que essa bobagem de cronista que escrevi ali.
Eles não chegam a um consenso sobre se os espinhos são de fato espinhos ou patas,
ou se as pretensas patas seriam apenas longos pelos nas costas. Bom, curioso
como o jornalista que sou, fui à internet procurar a foto do tal fóssil. E é do
alto de minha ciência jornalística e cronística que afirmo: que minhoca com
dentes e patas o que! Aquilo não passa de um graveto. Só serve mesmo é para
inspirar uma crônica mundana.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de junho de 2015)
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