“A vida é como um refrigerante
de maionese/ E a vida é como espaço sem sala/ E a vida é como bacon com
sorvete/ Assim se parece a vida sem você”. Esses versos aí configuram a
abertura de uma canção do roqueiro nova-iorquino Lou Reed (1942 – 2013),
intitulada “What´s good” (“O que é bom”, em tradução livre), abertura do álbum
“Magic and Loss”, lançado em 1992. Verborrágica e repleta de teses e conceitos
poéticos, como toda a excelente obra de Lou Reed, a letra fala sobre o sentido
da vida que, em última análise, é boa, porém, às vezes, injusta.
Ao elencar uma pequena série de
conjunções estranhas como refrigerante de maionese, que causam rejeição só de
pensar, o músico está querendo intensificar, a partir do contraste, como a vida
dele (ou a do personagem da canção) seria sem sentido sem a presença da outra
pessoa, provavelmente a namorada ou esposa ou amante. A vida sem ela seria sem
sentido igual a um refrigerante de maionese, ou igual a espaço sem salas ou
ainda igual a bacon com sorvete. Se bem que eu, fissurado por maionese como
sou, encararia um copo de refrigerante produzido a partir desse condimento, só
por curiosidade. Descendente de germânicos, creio que também arriscaria dar uma
garfada e provar um bocado composto por uma bela tira de bacon frito
acompanhado por uma bolotona de sorvete, misturando doce com salgado. E espaço
sem salas, bem, vivam os parques, não é mesmo?
Mas a ideia não é desautorizar a
poesia do Lou Reed, pelo contrário. Concordo com a qualidade das metáforas que
ele criou para compartilhar a sensação de estranhamento que seria a vida sem a
pessoa amada ao lado. O que fico pensando é que qualquer pessoa que escute a
letra poderia completá-la, agregando mais elementos de uma lista pessoal de
coisas sem sentido, sem sabor, que funcionariam como sinônimos de estranhamentos.
Entra aí a observação feita dia desses por um amigo meu escritor aqui de Caxias:
“crônica sem título é igual a namoro sem beijo”.
Taí, uma frase bem ao estilo Lou
Reed, que diz tudo. Mas nada contra quem opta por namorar sem beijar, como
aquele casal de Macatuba (SP), a Géssica e o Rafael, que casou após dois anos de
namoro sem beijos nem toques, e foi notícia nacional. Havemos de respeitar as
opções de cada um, pois a cor da vida depende dos olhos de quem a vive. E me
passa prá cá esse copo de refri de maionese, que me deu sede.
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