Guri, Balú, Ufo, Chiquinho,
Bolinha, Sherlock e Dibolinha são seres que têm muito em comum, talvez mais em
comum do que possa cada um deles imaginar, em suas vãs filosofias caninas. Caninas,
sim, porque tratam-se de cachorros, cães, cuscos, guaipecas, como se dizia em
relação a alguns deles lá em Ijuí, anos atrás, quando eu era criança e
cultivava a estimação de amigos caninos em nossa casa na Rua dos Viajantes. Plantada
em meio a um pátio gigante, nossa residência era alegrada diariamente pela
presença de animais de estimação de várias espécies, nunca tendo faltado
cachorro.
Essa turma citada ali em cima
perfaz o grupo dos amigos cães que viveram conosco ao longo de cerca de um
quarto de século, alguns sucedendo outros, um que outro convivendo, tendo Balú
sido o mais longevo, o ancião, o sábio da aldeia, que repassava aos neófitos as
dicas sobre como viver e se dar bem ali naquela casa. Ser cão e dar-se bem em
nossa casa era tarefa muito fácil, bastava ser simpático, latir e abanar a
cauda, uma vez que éramos todos naturalmente afeiçoados a cachorros, gatos,
peixes de aquário, tartaruguinhas, passarinhos, boizinhos e até galinhas (houve
uma que viveu em estimação lá em casa, o Soiza, assim batizado por ter eu
imaginado-o galo enquanto pinto e ter-se revelado ruiva galinha semanas depois,
e a manutenção do nome eternizava meu erro de avaliação de gênero aviário).
Nunca tivemos papagaio nem caturrita, talvez por falta de tempo, muito menos
calopsita e iguana, que são bichos cuja estimação teve início mais
recentemente, mas chegamos a namorar a ideia de adotar porquinhos-da-índia e
hamsters.
Havia também bichos que nos
adotavam de surpresa, como a macaquinha-prego Chica, que surgiu sabe-se lá de
onde e foi se instalar nas árvores do matinho vizinho ao nosso pátio, vindo dar
bom-dia e receber frutas e pão de presente lá em casa todos os dias, para
alvoroço de Balú, Ufo, Soiza e o resto da galera. Recordo isso tudo no momento
em que leio a aterradora notícia de que há na China um festival anual para
celebrar o solstício em que mais de dez mil cães são abatidos e servidos de
almoço. Que horror. E que sorte a de Guri, Balú, Ufo, Chiquinho, Bolinha,
Sherlock e Dibolinha a de não terem ido ser cachorros na China. Nem sempre a
gente tem consciência das sortes que carrega.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de junho de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário