O mundo era mais fácil de
apreender até alguns anos atrás, quando não se tinha tanto acesso à informação
e quando nossas aldeias se restringiam (e se conformavam) ao fato de serem,
agirem e pensarem como aldeias. Mas o mundo mudou vertiginosamente e mesmo as
antigas aldeias estão plenamente inseridas nele, mostrando na prática que, hoje
em dia, tamanho não é mesmo documento.
Você pode perfeitamente viver em Uvanova e
gerenciar um negócio com clientes estabelecidos na Manchúria. Não precisa morar
em São Paulo para conhecer as últimas tendências do que quer que seja. Tudo
isso gera facilidades, mas, ao mesmo tempo, semeia complexidades que exigem cada
vez mais esforços de nossas mentes para que nos mantenhamos sintonizados com o
ritmo da vida moderna. O conhecimento não é mais estático, ele se transforma
constantemente, deixando a comer poeira, por exemplo, aqueles que ainda
acreditam que Plutão é um planeta, conforme minha geração aprendeu nos bancos
escolares.
Plutão foi rebaixado, gente, apesar de meus
protestos particulares, que não deram em nada, como bem se vê. Plutão segue lá,
firme e forte, no mesmo lugar de sempre, na nona e última posição do Sistema
Solar, logo depois de Netuno, cumprindo sua orbitazinha ao redor do Sol como
Vênus, Marte e todos os outros, só que a humanarada daqui da Terra decidiu, por
“a” mais “b”, desqualificá-lo. Ele, que não tem internet nem perfil no facebook
e faz tempo que não telefona, não está sabendo de nada, mas aqui na aldeia
referir-se a Plutão como planeta é passar atestado de desinformado.
Ou seja, é preciso estar ligado,
tá ligado? Ontem, por exemplo, dando lá minhas navegadinhas, fiquei sabendo que
existe um Instituto Internacional para a Exploração das Espécies e que, todos
os anos, a entidade divulga uma lista contendo as principais espécies animais e
vegetais descobertas na Terra nos últimos meses. Ou seja, ainda estamos a
descobrir bichos e plantas na natureza, que sequer sonhávamos existirem. Eis,
então, que surge o olinguito, um mamífero simpático (“e fofo”, insiste minha
esposa que eu ressalte) que vive encarapitado na copa das árvores dos Andes. Conhece
o olinguito? Não? Ah, você é do tempo em que bicho era vaca, cabra e galinha, e
animal estranho era o tigre do circo, não é mesmo? Pois é, meu caro, mas isso
não basta mais. Entra na internet e vai lá conhecer o olinguito. Para não
correr o risco de acharem que você vem de Plutão...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de maio de 2014)
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