Sempre
há muito que aprender com quem possui mais cultura, mais história, mais
trajetória e mais conhecimento do que a gente. Sempre. Esse é um dos segredos
da sabedoria e um dos fatores a serem observados por quem pretende obter
desenvolvimento e crescimento. Isso serve tanto para indivíduos quanto para
agrupamentos de indivíduos. Serve até mesmo para nações inteiras.
Uma
nação subdesenvolvida ética e culturalmente pode ter muito a aprender com
nações que já atingiram patamares mais elevados nos quesitos que norteiam a convivência
social. Nós, aqui do nosso Brasil do futebol, da alegria e da violência,
podemos aprender bastante com povos de além-mar que estão alguns anos-luz à
frente em questões importantes, como os direitos fundamentais do cidadão, por
exemplo. Nesse quesito, o nosso país continental tem muito a aprender com o
pequenino Principado de Mônaco, o segundo menor Estado do mundo (só fica atrás
do Vaticano), com 202 hectares de área e uma população de cerca de 35 mil
habitantes.
Isso
ficou patente com a notícia de que a Família Real de Mônaco emitiu um
comunicado oficial ao mundo, em que repudia a abordagem a respeito da vida da
princesa Grace Kelly (1929-1982), feita pelo filme dirigido por Olivier Daha, com
estreia mundial em 14 de maio no Festival de Cannes. “Grace: A Princesa de
Mônaco”, traz Nicole Kidman no papel-título da obra que retrata a vida da
famosa atriz de Hollywood que abandonou os holofotes para se casar com o
Príncipe Rainier III, de Mônaco, até morrer em um controverso acidente
automobilístico.
Mas
a Família Real não gostou da abordagem efetivada pela obra cinematográfica e lançou
nota oficial reiterando que o diretor não levou em consideração as observações
feitas pelo Palácio do Principado. “Esse filme não pode ser classificado como
uma biografia. Trata-se de obra puramente ficcional, baseada em referências
históricas erradas e dúbias. A família da princesa não deseja ser associada a
esse filme”, resume o comunicado.
Mas
em nenhum momento a Família Real cogita a possibilidade de censurar o filme.
Discordam, repudiam e manifestam seu ponto de vista. E ponto. Censura? Nem lhes
passa pela cabeça. Já, do lado de cá do Atlântico, sempre que se trata de
biografias, o gatilho da censura é acionado com destreza, altivez e
desenvoltura, escancarando os nossos pés firmemente fincados nos atrasados
conceitos totalitários de sociedade. Nossa caminhada para atingirmos o porte de
um Principado de Mônaco ainda é longa, ó patrícios.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de maio de 2014)
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