Um
dos segredos para conseguir obter uma vida mais sadia é aprender a conhecer a
linguagem de seu próprio organismo. Desde muito cedo, até mesmo porque se trata
de instinto, aprendemos a detectar, por exemplo, algumas de nossas necessidades
mais básicas, como fome e sede, e imediatamente tratamos de encontrar meios de
saciá-las (no início, metendo a boca no mundo para ganhar a teta materna e,
mais tarde, aprendendo a dizer “papá” e “mamá”, o que enche nossos pais de
orgulho por imaginarem que os estamos a chamá-los, mas o que queremos é rango
mesmo, e rápido).
À
medida em que vamos crescendo e nos tornando seres mais complexos, nosso rol de
necessidades vai também ampliando e se tornando mais cheio de melindres e
requififes. Tirando de lado frescuras como a vontadinha de comer sorvete de
rapadura ou de assistir a um novo filme estrelado pela Scarlet Johansson,
alguns de nós, mais atentos e sensíveis aos sinais emanados pelos seus próprios
corpos, aprendem a perceber que o organismo está necessitando, por exemplo, de
glicose, ou de frutas, ou de verduras, ou de um pouco de carne, essas coisas.
Cientes de que o corpo fala, vamos aprofundando canais de comunicação conosco
mesmo, processo que, se bem organizado, resultará em indiscutíveis ganhos para
nossa saúde física.
Padrões
semelhantes ocorrem, a meu ver, também no âmbito intangível de nossas
essências, ou seja, em nossa parcela não-física, que alguns podem batizar de
alma, ou de porção espiritual, ou inteligência, essência, self, o que seja.
Essa nossa parte de nós mesmos também tem fomes, desejos e necessidades, que
gritam e precisam ser supridas de vez em quando, a bem de nossa sanidade mental
(e/ou espiritual).
Noite
dessas, por exemplo, detectei em mim uma necessidade grande de voltar a
observar estrelas. Felizmente não chovia, a noite estava clara, enluarada.
Peguei a cadeira de praia e assentei-me na sacada, a fim de saciar essa saudade
que repentinamente se abateu sobre mim, de privar por alguns instantes da
companhia muda e apaziguadora das estrelas que, incrível, continuavam lá, nos
mesmos lugares em que eu as havia visto da última vez em que nos encontráramos,
sei lá eu quanto tempo atrás.
Recarreguei-me
nessa minha parte não corporal e voltei para dentro de casa e de mim mesmo,
saciado. Quantas dessas necessidades não palpáveis será que andam gritando
dentro de nós sem que lhes estejamos dando ouvidos? É fundamental aprender a
não ser surdo a esses clamores.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de maio de 2014)
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