A
novidade culinária do momento, nas cozinhas dos grandes chefs, dos grandes
restaurantes, das grandes cozinheiras, dos grandes gourmets e dos grandes
enganadores de avental (como eu), é uma panela modernérrima que agrega as
funções de um forno sobre a chama do fogão. Além de visualmente linda, a tal
panela é fabricada com material de última geração, sob as mais avançadas
técnicas de feitura de panelas antiaderentes e mantenedoras de calor,
resultando em um artefato útil, prático, fácil de lavar e de manusear,
realmente revolucionário.
Temos
a tal panela aqui em casa, providenciada pela senhora minha esposa, que sempre
é muito mal intencionada no quesito cozinha, uma vez que decidiu que eu cozinho
bem e, amparada nesse argumento (que meu ego altamente influenciável resiste em
refutar), sempre que é preciso cozinhar ela empurra a mim para o fogão, vai me
enfiando o avental e tacando a cebola na minha mão, enquanto se some
apartamento adentro esperando ser chamada de volta só quando minhas estripulias
gastronômicas estiverem prontas. Aí ela volta, se senta à mesa e aprecia tudo
aquilo que eu vou enfiando no prato dela, abrindo generosamente as comportas de
seus inesgotáveis estoques de elogios.
Sim,
o amor é lindo. O amor ou a perspicácia, porque, na estratégia de não ter de
assumir a administração do fogão, ela não só elogia todo o arroz queimado que
eu faço (ou o feijão aguado, o bife arranca-dente, o estrogonofe com gosto de
mar, o suflê murcho e pálido e a sopa de capeletti com sabor de agnoline), como
divulga amplamente para a família e os amigos o fato (ou a versão dela dos
fatos) de que eu seria (“ele é”, afirma ela) um cozinheiro de mão cheia.
Esperta, ela. Faz a minha fama e não precisa cozinhar.
Claro
que, frente a essa propaganda toda, a fila de amigos e parentes querendo vir
jantar aqui em casa para conhecer os sabores de minha propalada competência
cozinheira é cada vez mais longa. Mas eu, que não sou besta e não quero perder
amigos nem ser deserdado pelos parentes, vou enrolando como posso. Enquanto
isso, minha esposa, por tabela, vai conseguindo manter “inexplicavelmente” a
forma. Como é possível ela andar na linha, leve e saltitante, se alega ter em
casa um “personal chef” de meu quilate? A fórmula é simples: inventiva, arranja
panela, senta à mesa, dá duas garfadas, rasga elogios e, depois,
inteligentemente, fecha a boca. Resta a mim engordar o ego com os elogios e a
pança com o resto do macarrão borrachudo. Sou uma anta... e cada vez mais
gorda.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de maio de 2014)
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