Sempre
que morre uma pessoa famosa a gente fica meio que consternado como se a perda
fosse parecida com a de um amigo ou a de um parente. Isso se dá de forma ainda
mais aguda quando o famoso em questão integra a nossa galeria pessoal de
personalidades a quem admiramos, pois as atitudes e as obras dessas pessoas
marcam nossas próprias existências, viram referências daquilo que somos, de
como vemos o mundo, de como pensamos.
A
morte de um famoso que nos é referencial fala fundo a alguns aspectos de nossas
essências. “Diga-me a quem admiras e dir-te-ei quem és”, poderíamos afirmar sem
temor de incorrermos em maiores riscos ao analisarmos os valores de determinada
pessoa. Pois este ano de 2014, que ainda nem chegou à metade, tem sido pródigo
no ceifar de vidas de famosos importantes. Ao menos, alguns dos que têm
desaparecido são referência para muita gente, como o ator José Wilker
(protagonista de “Roque Santeiro”, a última novela a que me dei ao trabalho de
assistir, ainda nos anos 1980), Gabriel García Márquez (cujo talento literário
assentou em mim o vício incorrigível pela leitura quando ainda na adolescência)
e Luciano do Valle (cuja voz narrou as conquistas de Nelson Piquet na Fórmula-1
e a derrota da Seleção Brasileira na Copa de 1982).
Agora
quem se vai repentinamente é o cantor Jair Rodrigues, fulminado aos 75 anos de
idade por um infarto, ele que estava ainda em plena atividade. Tratava-se de
uma verdadeira lenda viva da Música Popular Brasileira. O nome dele está
perenemente tatuado na minha própria biografia por culpa de um padrinho que
teve uma ideia genial quando eu nasci, lá em Ijuí, décadas atrás.
Ao
ser informado de minha chegada ao mundo, o tal padrinho entrou em uma loja de
discos e comprou um “kit LPs da hora”. Ou seja, presenteou-me ao nascer com uma
amostra da trilha sonora que embalava a galera naqueles idos de 1966, resumida
em quatro bolachões: “Rubber Soul”, dos Beatles; um compacto contendo a música
“Satisfaction”, dos Stones; “O Fino do Violão”, de Paulinho Nogueira e “Dois na
Bossa Número 2”, a clássica reunião de Jair Rodrigues e Elis Regina.
Muito
fui acalentado por meus pais ao som dessas obras de arte musicais, com as vozes
de Elis, Jair, Paul McCartney, John Lennon, Mick Jagger (mais as cordas
dedilhadas por Nogueira) se sobrepondo ao meu choro de bebê. Nossos ídolos
podem ainda ser os mesmos e a perda de alguns deles dói, é certo, mas serve
para reforçar nossos próprios valores.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de maio de 2014)
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