A
deselegância, para não dizer o descontrole e a falta de educação, do técnico da
Seleção Brasileira de Futebol, Luiz Felipe Scolari, ao xingar com palavrões o
fotógrafo Roni Rigon, do jornal Pioneiro,
que no domingo passado fazia seu trabalho ao cobrir a visita de Felipão ao
Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, causou espécie. O
perfil pouco polido do treinador já é conhecido de longa data, porém, o que
causou espanto foi a truculência das palavras aliada a um estado de espírito
agressivo, carrancudo, hostil às manifestações naturais da população e da mídia
à sua presença, haja vista a figura pública que ele encarna.
Mas
eu não me espanto. O Felipão utilizou-se de palavreado de baixíssimo calão
contra o fotógrafo e seu trabalho, lá no terreno sagrado do Santuário, sob os
olhares escandalizados da santa que teoricamente foi homenagear, por uma
simples razão: xingar e mandar as pessoas irem para “aquele lugar” são atitudes
que, infelizmente, são encaradas como “naturais” no ambiente futebolístico. Prova
disso é aquele outro fato recentemente ocorrido também aqui em nossas plagas
serranas, que abordei em crônica recente, quando torcedores do Esportivo de
Bento Gonçalves agrediram o árbitro com palavras e atos racistas em partida do
Gauchão. Chamado às contas, um dos acusados, na tentativa de se defender,
afirmou que não proferiu frases racistas, mas que apenas fez “xingamentos
normais contra o juiz”. Xingar, então, é considerado “normal” no futebol por
torcedores, jogadores, treinadores e todos os demais personagens das tramas
desenvolvidas nos gramados.
O
problema é que tudo aquilo que se transforma em “normal” devido ao uso comum,
mesmo não o sendo (matar é “normal” nas guerras; estuprar também; justiçar com
as próprias mãos é “normal” no submundo do crime e por aí vai), acaba virando
regra de conduta, e é aí que mora o perigo. O xingamento, no cenário do futebol,
de tão corriqueiro que é, se transformou em banal e usual. O problema é que o
uso comum cria a falsa impressão de normalidade, levando as pessoas envolvidas a
esquecerem que normal é que não é. Pode ser corriqueiro, mas não é normal, nem
aceitável, nem louvável, muito menos justificável.
Daí
a irmos nos xingando no trânsito, no trabalho, em casa, na escola, na vida, nos
santuários, é só um passo. Driblar essa falsa normalidade é o desafio que se
impõe às celebridades como Felipão e a cada um de nós.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de maio de 2014)
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