Gomes
Pais e Ramiro Pais eram dois irmãos portugueses que provavelmente viviam na
cidade de Braga no século 12 e que, tudo indica, eram gente bem de vida, detentores
de posses, influentes e importantes. Sabe-se pouco sobre eles, uma vez que são
gente do passado e a reconstrução de biografias antigas é um desafio espinhoso
para historiadores modernos, haja vista a escassez de registros oficiais,
hábito que a humanidade passou a adotar muito recentemente.
Sobre
os irmãos Pais, sabe-se algumas poucas coisas devido ao fato de, por volta do
ano 1135 (data estimada devido a vários argumentos derivados de pesquisas
históricas), terem decidido firmar um pacto entre eles, que foi registrado por
um escrivão, em texto redigido sobre um pergaminho específico que tinha como
suporte, em um dos lados, pele de carneiro. Nesse pacto, um dos irmãos se
compromete a não contestar os direitos do outro em relação às suas terras.
Este, em troca, também se compromete em ajudar a defender o primeiro no caso de
agressões vindas de terceiros. O documento sobreviveu aos séculos e está
guardado na Torre do Tombo, em Lisboa.
E
o que é que nós temos a ver com isso? Bem, temos muito. Especialmente nós, que
lemos e escrevemos utilizando a Língua Portuguesa. Isso porque o dito texto,
conhecido como “Pacto entre Ramiro Pais e Gomes Pais” vem sendo considerado,
por uma vertente de pesquisadores, como o primeiríssimo texto escrito em
Português na história. Se isso for realmente verdade, o documento desbanca a
primazia de outro texto, o “Testamento de Dom Afonso II”, que até então era
considerado o texto-mãe da escrita portuguesa. O testamento foi assinado pelo
rei português Dom Afonso II em 27 de junho de 1214, o que transforma a data
como a oficial do nascimento de nossa língua. No mês que vem, portanto, se
optarmos pelo testamento do rei ao invés do pacto entre os irmãos Pais,
deveremos celebrar os 800 anos de existência oficial da Língua Portuguesa.
A
atenção para o fato me foi despertada por minha madrinha na Academia Caxiense
de Letras, Maria Helena Binelli Catan, ao me repassar um artigo aludindo ao
tema. Faz 47 anos que utilizo a língua e jamais me dei por conta de que ela tem
até data de nascimento. De fato, somos privilegiados até nisso, ora pois!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de maio de 2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário