Véspera de feriado, como foi no
domingo, é a melhor coisa do mundo, especialmente quando a folga cai em uma
segunda-feira e você pode antever um longo dia de paz e sossego, longe dos
afazeres atribulados do cotidiano, a dedicar-se apenas a aquilo que lhe dará
prazer. Na noite anterior você se dirige para a cama já com um meio-sorriso nos
lábios, recostando a cabeça e a mente no travesseiro, que se põe a aparar os
pensamentos leves que você vai cultivando enquanto antegoza tudo aquilo que vai
(ou que não vai) fazer no dia seguinte. E então adormece, tranquilo e sereno,
como que acalentado por anjos.
No estado híbrido entre vigília
e sono, você já se vê saltando da cama no dia seguinte na hora em que bem
entender, o despertador desligado e enfiado embaixo da cama, a ditadura das
horas varrida para o limbo pelo menos nesse dia. Caso tenha cônjuge e filhos, vai
aproveitar para desenvolver programas em família, como caminhar no parque, brincar
na pracinha, andar de bicicleta, fazer um churrasco, lavar o automóvel, dar um
passeio até o interior, comer porcaria no shopping, ir ao cinema, visitar algum
parente, passear de mãos dadas, levar o cachorro a cheirar terra, coisas do
gênero.
Se for solteiro, vai dormir até
a hora em que a cama, exausta de sua presença, o expelir para fora do quarto.
Vai abrir a geladeira e fazer um sanduíche Torre-de-Babel, empilhando tudo o
que houver pela frente (e que for digerível), a título de desjejum-almoço-lanche
(para parecer chique, dirá a todos que fez um “brunch”). Depois vai se
aparafusar no sofá da sala e ligará a televisão, ficando uma hora zanzando
pelos canais e reclamando que não tem nada decente para assistir - isso se for
homem. Se for mulher, vai telefonar para uma amiga, com quem vai passar essa
mesma hora colocando uma parte da conversa em dia e marcando um encontro em uma
confeitaria para dali a algumas horas, a fim de colocar em dia todas as outras
partes que não deu para abordar pelo telefone. Coisas do gênero.
Mas, contudo, porém, entretanto...
em morando em Caxias do Sul, ou na Serra Gaúcha, como acontece com boa parte de
quem me lê, corremos o risco é de acordarmos com nosso feriadinho mergulhado na
mais espessa e contundente neblina, o que levará nossos planos por água abaixo.
Eu, que não me dou por derrotado, aproveitei para entocar os pés em meias e pantufas,
degustar xícaras de cappuccino e proceder àquela prazerosa e intimista
organização dos livros nas estantes, há tanto tempo protelada. Estão para
inventar uma cerração capaz de nos estragar um feriado, pois não?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de maio de 2014)
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