Precisamos
resistir ao avanço da barbárie. Ela se manifesta de muitas e variadas formas, o
que exige estarmos permanentemente atentos a seus movimentos. A melhor (e
única) arma capaz de deter seu avanço, combatê-la e mesmo eliminá-la, é a
civilidade. Civilização é antônimo de barbárie.
A
barbárie só viceja e só se alastra sobre terreno destemperado de civilização.
Se semearmos civilidade, estaremos criando escudos naturais contra a barbárie.
A fórmula é simples, mas executá-la na prática é muito complicado. Requer
esforço e envolvimento. Requer desejo de resistir. Exige que adotemos essa
atitude de forma determinada. Requer tudo de nós, e o melhor de nós. De cada um
de nós. Para que não sucumbamos à barbárie. Meu medo, meu maior temor, é que
sucumbamos todos à barbárie. E a barbárie não dorme no ponto. Precisamos estar
alertas.
Em
tempos passados, distantes na História, o termo “bárbaros” era utilizado para
designar povos violentos e desconhecidos, vindos de longe para conquistar,
destruir, matar, estuprar, pilhar aquilo que as outras culturas haviam levado
séculos para construir. Isso mudou. Hoje, os bárbaros estão entre nós, moram ao
lado, são semelhantes a nós e, o pior de tudo, muitas vezes, habitam nossas
próprias almas em segredo, onde são alimentados com nossas raivas, com nossos
ódios acumulados, com nossas intolerâncias, com nossa tendência ao pensamento
autocentrado, com nossa vontadinha de passar a perna em todos os demais em
benefício próprio, com a violência que vamos acalentando e deixando latente lá
dentro de nossos íntimos. E, quando menos esperamos, na primeira oportunidade,
o bárbaro vem para fora e se manifesta com toda a sua selvageria
característica.
Foi
assim no final de semana em Guarujá, no litoral paulista, quando uma multidão
linchou e assassinou uma dona-de-casa inocente, acusada erradamente de ser uma
sequestradora de crianças. Não precisou muito para que a barbárie se
instalasse, camuflada de justiça, pelas mãos de uma turba de gente que se
imaginava “do bem”. Linchar não é fazer justiça. Linchar é crime. É barbárie.
Mesmo que a moça fosse culpada daquilo que a acusavam (e não era), o
linchamento seguiria sendo o mesmo crime horroroso que foi.
Foi
barbárie. Pura e simples barbárie. Precisamos resistir a ela. A barbárie não
vem mais de além-mar em embarcações lotadas de vikings distantes. Ela está aqui
ao lado. Ela está dentro. E, se não cuidarmos, ela planta sementes dentro de
cada um de nós. Precisamos urgentemente resistir. Confesso que ando bastante
preocupado.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de maio de 2014)
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