O imediatismo e a pressa, essa
dobradinha de mesmo sangue que caracteriza a época em que vivemos, tem lá suas
benesses, mas também engendra armadilhas em relação às quais seria saudável
manter-se atento. Esses conceitos, que parecem pautar o mundo e a vida
particular de cada um de nós, nos dão a impressão de estarmos inseridos em um
contexto único na história da humanidade, em que as transformações são tão
rápidas que, se piscarmos os olhos, passarão por nós sem que as tenhamos
percebido e corremos o risco de perdermos o bonde.
Daí a tal da ansiedade que gruda
em nossas costas desde o instante em que saltamos da cama de manhã até a hora
de retornarmos a ela à noite, rezando para que ao menos os sonhos nos
transportem para aquela ilha serena e deserta, o que nem sempre acontece. Daí advém
boa parte dos males físicos e espirituais que passam a encontrar habitat
convidativo em nossos corpos e mentes.
Bom, mas isso é só um aspecto da
coisa toda. Outro, também decorrente da pressa e do imediatismo, diz respeito à
nossa atual tendência de julgarmos as coisas superficialmente, de forma instantânea,
adotando certezas e razões sem a devida avaliação ponderada que a maioria dos
assuntos da vida requer. Estamos nos tornando imediatistas em nossa capacidade
de julgar e de avaliar o mundo, e isso, sim, traz consequências preocupantes
para o perfil da sociedade que estamos moldando nesse início de novo milênio.
Ao mesmo tempo em que não
paramos mais para nos alimentar direito, não paramos mais para aprimorar nossos
espíritos lendo e meditando, não paramos mais para cultivar nossas relações
reais com as pessoas (redes sociais virtuais são o engodo do século nesse
aspecto), não paramos mais para respirar o pulsar da vida, também não paramos
mais para analisar com profundidade a avalanche de informações que nos são
despejadas todos os dias, por todos os lados. Mesmo assim, não represamos nossa
tendência natural de nos posicionarmos a respeito delas, julgando tudo
superficialmente e ampliando os riscos de produzir e reproduzir julgamentos equivocados.
Nos transformamos em
maniqueístas instantâneos. Sem maiores reflexões, somos rápidos em rotular as
pessoas como boas ou más, os fatos como certos ou errados, e pronto, feito
isso, vamos para cima. E daí surgem as monstruosidades que vão encharcando os
noticiários com fatos horrorosos. Não por culpa dos noticiários, mas sim por
culpa de quem protagoniza esses fatos. Ou seja: nós mesmos. Que tal pararmos
para pensar um pouquinho, de vez em quando?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de maio de 2014)
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