Andei escrevendo aqui neste
espaço, no final de semana, a respeito do novo filme do Godzilla, que está
estreando nos cinemas do mundo todo. Godzilla, todos sabem, mas sempre é bom
recordar para os incautos, é aquele lagartão gigante que tem o reprovável vício
de sair do mar e devastar cidades a caudadas, só baixando a bola depois da ação
de algum super-herói voador, ou do exército ou de cidadãos comuns que viram
heróis pelas mãos dos criativos roteiristas.
Bom, mas foi só eu me botar a
escrever algumas reflexões a partir disso para minha esposa passar a dizer que
não precisa se dar ao trabalho de ir ao cinema para ver o Godzilla, uma vez que
ela tem o discutível privilégio de vê-lo em ação aqui casa todos os dias, promovendo
estragos relativamente semelhantes ou até maiores do que os danos causados pelo
réptil original. Refere-se ela, com essa observação cínica, a mim mesmo, como o
esperto leitor já deve ter desconfiado.
E se for esperto mesmo o leitor
como julgo que seja, antecipará também a compreensão de que ela está coberta de
razão em sua comparação metafórica entre mim e o astro-lagarto, haja vista
minhas mais recentes atuações dentro do lar que com ela compartilho. Minha
arrepiante capacidade de destruir não exige atributos reptilianos, pelo
contrário: basta para tanto o uso descoordenado de minhas mãos e do restante de
meu corpo que, a julgar pela forma como o manejo, bem que poderia ser dotado de
uma cauda a fim de lhe proporcionar o equilíbrio que tanta falta faz quando me
locomovo me esgueirando entre os pufes da sala, as cadeiras e as quinas das
prateleiras.
Sábado, por exemplo, consegui
torrar um aparelho de DVD ao tentar estabanadamente ligá-lo junto à tevê da
sala. Esqueci que o trouxera de Porto Alegre e que a voltagem lá é 110, e não
220, como aqui em Caxias. Bastou enfiar a flecha na tomada para que eu
desaparecesse com minha cara abobalhada por trás da nuvem de fumaça que saltou
do aparelho, junto com o estouro denunciador da bobagem, que atraiu minha
esposa aos saltos de lá de dentro para ver o que estava acontecendo.
Não era nada, apenas eu,
Kirstzilla, em ação, mais uma vez, fazendo coro com a reaparição do lagarto
original nos cinemas. A heroína aqui em casa acaba sendo minha esposa, que
tenta proteger nosso patrimônio material e físico das minhas investidas, me
despachando para o quarto a ler um livrinho. Minha esposa sabe domesticar
Godzillas. Como é que Hollywood ainda não a descobriu?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de maio de 2014)
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