Tudo exige empenho, dedicação, capricho,
esforço, estudo, sangue, suor e, se necessário, até lágrimas. O mundo de hoje
não tem mais lugar para chutadores e amadores, em nenhuma esfera de atuação.
Não basta conhecer para acreditar que sabe fazer. É preciso habilitar-se a
saber fazer. Caso contrário, morre-se na praia, ou, no melhor das hipóteses, se
é atropelado pelo trem lotado das competências alheias, que estão aí, fazendo
bafo na nossa nuca. E quem é que gosta de bafo na nuca? Eu não, eu não, eu não,
nem eu, eu é que não...
A fim de ilustrar o argumento
acima proposto, podemos deitar olhos sobre um exemplo singelo, prosaico, comum,
banal. Tipo o que presenciei ontem à noite, quando fui com minha esposa jantar
em um restaurante que não é nenhum dos da moda, nenhum dos dez mais citados nas
pesquisas de preferência, mas, sim, um honesto e esforçado estabelecimento de
bairro, daqueles em que a simpatia do atendimento rima em total sintonia com a
qualidade do que é posto na mesa (e com preços justos, justíssimos, por sinal).
Chegamos, sentamos, recebemos o cardápio e escolhemos: bauru com molho e
acompanhamentos. Pedido simples, corriqueiro, humano e brasileiro.
E o que aconteceu? Ora, surpresa
das mais agradáveis: fomos brindados com um bauru bem proporcionado (eu ia
escrever “bem fornido”, mas mudei de ideia), elaborado a partir de uma peça de
filé de primeira, coberto com generosas fatias de presunto e queijo e um molho
vermelho de dar água na boca (inundou minha boca ontem, inunda minha boca
agora, enquanto escrevo e evoco a lembrança), guarnecido por uma tigela de
arroz branquinho e soltinho e dois pãezinhos aquecidos na manteiga e salpicados
com orégano. Aiaiaiaiai, que manjar dos deuses!
E onde a frescura, onde o
nhe-nhe-nhe, onde o balagandã e o fru-fru? Não havia nada disso. Havia, sim, a
expressão materializada de um trabalho bem feito, sério, profissional, diferente
de muitos outros pseudobaurus a que já fui apresentado por aí. Não basta achar
que sabe fazer. É preciso saber fazer mesmo, de verdade. A era da enganação
está perdendo terreno. Posso dizer isso de barriga cheia.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de dezembro de 2014)
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