A lembrança mais remota que tenho
de meus contatos com o Papai Noel me reconduz a dezenas de anos passados,
quando eu devia ter uns cinco ou seis anos de idade e morava na Rua dos
Viajantes, em Ijuí. Coisas estranhas e maravilhosas aconteciam na Rua dos
Viajantes em Ijuí naquela época, e essa foi uma delas.
A informação de que Papai Noel
faria uma visita ao nosso lar na noite de Natal foi sendo revelada aos poucos para
mim e minha irmã pelos meus pais, enquanto o clima natalino ia se instalando
pela casa a partir da metade de dezembro. Falava-se em bom comportamento como
requisito fundamental para receber de Papai Noel os presentes que tanto almejávamos
(eu queria uma bicicleta Caloi e minha irmã desejava uma boneca Suzy, creio). A
expectativa, portanto, era grande.
Naquela época era usual as
famílias adquirirem pinheirinhos de verdade e instalá-los dentro de uma caixa
de metal a um canto da sala, ao pé do qual montávamos o presépio. Passávamos
dias ajudando nossos pais a ornamentar os espinhudos galhos do pinheiro com os
enfeites coloridos que reapareciam das caixas guardadas a sete chaves pelos
adultos. No jardim da infância, produzíamos enfeites artesanais com cartolina e
palitos de fósforo, que obtinham lugar de destaque na árvore. Assim, o clima
natalino se estabelecia, embalado com a trilha sonora de discos de vinil que
iam sendo tocados com Jingle Bells, Noite Feliz e outras canções similares.
Aí então, na noite de Natal,
chegou Papai Noel, o tão esperado visitante, carregando nas costas um saco de
estopa do qual foi retirando presentes. Lembro de quando cheguei perto dele e
percebi que se tratava de uma pessoa usando uma máscara, o que me causou certa
estranheza. “Ué, esse Papai Noel não é
o verdadeiro, mas sim um homem fantasiado”, pensei. De qualquer forma, não
disse nada, peguei meus presentes e saí. Em momento algum duvidei ali da
existência de Papai Noel. Apenas, aquele que viera não era o próprio, ok, sem problemas.
Afinal, ali, na Rua dos Viajantes, a fantasia tinha primazia e não era uma
máscara que colocaria tudo por terra. A prioridade era seguir sendo feliz. Magias
do Natal.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de dezembro de 2014)
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