Costumamos saber muito bem quais
são os elementos que nos dão prazer. Quais os produtos que nos embevecem, quais
as ações que nos encantam, quais as pessoas que nos fascinam, enfim. Quanto
mais convivemos com nós mesmos – situação a que somos individualmente
submetidos desde nosso nascimento, sem choro nem vela -, melhor vamos
desvendando as fontes de nossos maiores prazeres.
Para uns, as salas de cinema;
para outros, as mesas dos restaurantes; para algoutros, as distantes paragens
que se põem a visitar; para muitas delas, as compras, que lhes enfeitam os
pezinhos; para muitos deles, o futebolzinho de final de semana, que lhes
destrói os garrões; para os ricos, uma BMW novinha e reluzente; para os pobres,
o sonho com uma BMW reluzente e novinha; para os remediados, que seja aquela fosca
Brasília Muito Velha, mesmo que a piada seja batida; para o avô, o
churrasquinho que reúne a familiagem no final de semana; para o adolescente, um
final de semana acampando com os amigos, libertando-se dos almoços em família.
Enfim, cada pé conhece o sapato que lhe massageia os calos (e essa inventei
agora, eu que aprecio criar frases de efeito com gosto duvidoso).
Mas falando em mim mesmo,
aproveito para revelar que já faz décadas que sou assolado por uma dúvida
excruciante (tacar-lhe assim de supetão no leitor uma palavra incomum é outro
de meus prazeres passíveis de repreensão). Eu, que sou chegado nessa coisa
estapafúrdia de gostar de ler livros, não tenho jeito de descobrir qual desses
atos me causa maior prazer: iniciar a leitura de um livro, concluir a leitura
de um livro ou comprar um livro. Todas essas três ações me causam cascatas de
prazer. Cascatas, não: cataratas (que imagino maiores do que as cascatas, haja
vista a relação entre a do Caracol – cascata – e as do Niágara – cataratas, sem
falar que aquela se usa no singular e, esta, no plural).
Como não consigo colocar em
ordem de intensidade esses três prazeres, sigo a vida ininterruptamente
concretizando, de forma alternada, todas essas ações: compro, começo a ler e
termino de ler. Ai, que prazeres! “Cada louco...”, já dizia meu amigo
Argentino, de canto de olho.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de dezembro de 2014)
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