Dezembro é o mês das agendas.
Esquecidas ao longo dos demais onze meses do ano, colocadas a hibernar
quietinhas no fundo dos balcões das papelarias, é no derradeiro mês do calendário
que as agendas têm a oportunidade de despertar para a vida e fazem o seu
carnaval.
Basta entrar dezembro que agendas
passam a saltar indiscriminadamente em nossos colos, vindas de todos os lados. Agendas
com capa de couro, agendas simples e agendas elegantes, agendas temáticas,
agendas literárias, agendas com informações, agendas grandes, pequenas, médias,
com pesos e medidas, com a conversão de moedas, com os dias da semana em inglês
e espanhol (algumas até em alemão), agendas permanentes, agendas impermanentes,
agendas com páginas em branco para anotar pensamentos profundos,
agendas-diários, agendas com marcador, sem marcador, espiraladas ou em
brochura, ecológicas com papel reciclado, infantis com desenhinhos fofos, empresariais
sóbrias e respeitáveis, agendas ao gosto de cada freguês, em suma.
Eu fico faceiro nesta época do
ano, porque me confesso um agendólatra assumido: sou viciado e dependente das
agendas. Atingi tal ponto de dependência que preciso lançar todo e qualquer
compromisso nas páginas da agenda, para que me lembre de cumpri-los. Se não
está na agenda, esqueci. Se lancei na agenda, tenha a certeza de que cumprirei
o compromisso. Não chego ao ponto de anotar lá tarefas prosaicas do dia-a-dia
como escovar os dentes, tomar banho, pentear o cabelo, jantar, porque são coisas
que aprendi a fazer ainda antes de me alfabetizar e de precisar de agendas. Mas
não irei à dentista se isso não estiver apontado na agenda. Não pagarei as
contas, não trocarei o óleo do carro, não comparecerei às reuniões, não
felicitarei conhecidos pelos aniversários, essas coisas todas. Desagendado, eu não
sou eu. Então, que venham as agendas! E elas vêm mesmo.
Mas vem cá, isso de coisas
impressas em papel, não estava com os dias contados para acabar? Volumes
físicos tácteis nos quais se lê e se escreve com canetas, não era coisa do
passado? Pois é, vai ver que esqueceram de agendar essa extinção...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de dezembro de 2014)
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