O período de final de ano ainda
guarda alguns simbolismos mágicos para mim, mesmo não sendo mais criança e não
tendo mais uma relação assim tão próxima com o Papai Noel. O leitor, essa
criatura sempre otimista e esperançosa, imagina que, ao ler os termos que usei
para abrir este texto, vou discorrer sobre os bons sentimentos do Natal e a
renovação de projetos que nos assaltam as consciências na virada do ano. Só que
não, desculpem, aviso desde já: vou tratar é de comida mesmo.
A magia de final de ano que me
invade, leitora amiga, amigo leitor, se assenta sobre o reencontro de minhas
papilas gustativas com sabores só apreciados nesta época em que o calendário
exibe sua derradeira folhinha. Em especial, peru, tender, chester e bruster. Eu
não sei vocês, mas eu, é só nas ceias de Natal e de Ano-Novo que devoro perus,
chesters, tenders e brusters. Ah, aquela esfera de tender avermelhada toda espetada
com palitinhos de cravo-da-índia como se fosse um joelho submetido a uma sessão
de acupuntura, coberta com um molho preparado à base de mel e mostarda, hummm.
E os brusters e chesters que se assentam garbosos no centro da mesa coberta com
a mais fina toalha branca reservada para essa noite especial, exalando aquele
aroma de frango chique recém saído do forno, recheado com alguma surpresa que
só nossas mães, avós, sogras, tias, esposas, irmãs e cunhadas (tá, primas
também) sabem fazer. Ahmmm.
Houve épocas (bem pouco tempo
atrás, por sinal) em que também os espumantes (quando todos eles ainda eram denominados
indiscriminadamente como “champanhes”) só molhavam nossos lábios no final de
ano, mas isso, felizmente, evoluiu e hoje aprendemos a saborear esse
borbulhante e refinado néctar das ninfas em todos os meses do ano, sob qualquer
pretexto, o que é um avanço. Mas não me vejo abocanhando as coxas robustas de
um bruster ou o peito generoso de um chester em maio, ao meio-dia de uma terça-feira
qualquer. Há encantos que devem ser preservados para essas ocasiões especiais.
Que o diga o peru que desde ontem ocupa toda a área física do meu freezer (por
ainda poucos dias, bem o sabemos...).
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