Poucas cenas me deixam tão
incomodado quanto presenciar pessoas arremessando lixo pela janela de um
veículo em movimento. Papel de bala, casca de banana, bagana de cigarro,
sacolas plásticas, latinha de refrigerante, já vi de tudo. Não importa a marca
do carro nem seu ano de fabricação, muito menos a condição social dos ocupantes
do veículo. A porquice, infelizmente, é democrática e atinge igualmente a
todos.
Minha vontade, nesses casos,
seria possuir superpoderes para conseguir sair de meu próprio carro, juntar a
lixeira descartada em via pública, voar e emparelhar com o veículo dos porcos
ambulantes, arremessando de volta pela janela tudo aquilo que eles expeliram em
público logo ali atrás. Infelizmente, não possuo superpoder nenhum, e tenho de
me conformar em observar quieto à repetição de cenas degradantes como essa no
cotidiano do trânsito das cidades e das estradas. Como sabemos que o exemplo
vem de casa, esses condutores estão repassando seus maus hábitos a seus
próprios filhos ali no banco de trás, que naturalmente irão reproduzir a
porcalhice dali em diante, lógico.
Jogar lixo pela janela de seu
carro pode significar muitas coisas, e os psicólogos aqui que me socorram. Não
só os psicólogos, mas também os sociólogos e os doutores em evolução do comportamento
cultural de uma sociedade. Nós, brasileirinhos, temos uma relação de completo
descaso para com aquilo que é público. Na via pública, jogamos lixo. Na vida
pública, amealhamos o dinheiro público. Quando protestamos, quebramos tudo. Não
temos zelo por nada, exceto por aquilo que nos pertence. E se o que for público
puder ser amealhado para nosso patrimônio pessoal, o fazemos e, aí sim,
passamos a cuidar como nosso. Mas enquanto for público, desdenhamos, sujamos,
depredamos, estelionatamos, roubamos, espezinhamos, ignoramos.
O que esquecemos e ignoramos é
que cada um de nós, cidadãos, também somos um bem público. As pessoas da nação
são o maior bem da nação, por isso tantas leis que protegem nossas vidas e
nossos direitos. Pena que, agindo assim, nos transformamos em bens de quinta
categoria e, esses sim, plenamente descartáveis.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de dezembro de 2014)
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