Todo criador sabe que o segredo
para o sucesso reside no exercício de um procedimento conhecido como “erro e
acerto”. A gente até pode se convencer de que possui um talento para
determinada atividade, mas essa habilidade só vai ser desenvolvida com a
sucessão de tentativas de produção, quando os erros nos ensinam a aprimorar o
trabalho, que vai sendo coroado com os posteriores acertos.
Beethoven não nasceu compondo
sua Nona Sinfonia lá no berço, chacoalhando o chocalho. Não. Ele foi moldando
seu talento com erros e acertos. Provavelmente, fez como todo mundo: escondeu
os erros e exibiu os acertos, que é a dica que fica aqui de lambuja para quem
quiser brincar de gênio. Van Gogh deve ter começado rabiscando uma folha em
branco com lápis de cor e mostrando a obra para seu pai, que olhou estranhado e
disse: “que que é isso, Vincent, uma tempestade de areia?”, quando, na verdade,
o futuro gênio impressionista imaginava desenhar uma catedral gótica. Erros,
acertos. Com eles, a gente chega lá.
Exemplo disso é a Natureza, que,
por ser quem é, tem a primazia de não eliminar da face da Terra seus erros,
permitindo que os comparemos aos acertos, a fim de comprovarmos a evolução de seu
talento criador. Na questão gastronômica fica fácil observar isso. Primeiro,
veio o insosso e pálido chuchu, sem gosto, sem personalidade. Para saborear um
chuchu, precisamos agregá-lo a temperos e condimentos, caso contrário, teremos
a sensação de estarmos a mastigar água. Mas depois veio a moranga, aquela abóbora
alaranjada, saborosíssima quando refogada, misturada a um guisado ou mesmo pura.
A moranga é a evolução do chuchu, assim como a melancia é o aprimoramento do
melão.
Outra lição que a Natureza
ensina é o perigo da soberba do gênio. Nem sempre o criador produz
genialidades, e pode incorrer no risco da inversão do processo, partindo de
acertos para produzir erros. A Natureza, que não esconde nada, deixa à mostra
também seus equívocos. Primeiro, fez o macaco, selvagem e inocente. Mas daí foi
involuindo, involuindo, até chegar aos melões e chuchus que hoje controlam o
planeta. Pecado de gênio, pois não?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de dezembro de 2014)
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