James Ussher é o nome da figura
sobre quem vamos conversar um pouquinho hoje aqui neste espaço destinado ao
preenchimento de certas mal-digitadas linhas, sempre de autoria deste que vos
assombra. James Ussher, assim mesmo, com dois esses. Já ouviu falar? Não? Confesso
que nem eu, até ontem, quando vasculhava sites e livros e jornais e revistas e
enciclopédias e a memória em busca de um tema para a crônica de hoje (”um tema,
um tema, meu reino por um tema”, acho que já li coisa parecida em algum lugar, porém,
creio que o objeto de desejo do suplicante era algo mais equino).
Mas o James Ussher esse daí, com
dois esses no sobrenome, foi um cara que viveu na Irlanda, onde nasceu, em
Dublin, no ano de 1581. Depois morreu, em 1656, com a idade longeva de 75 anos,
uma raridade naqueles tempos. Ao longo de sua vida, dedicou-se à religião,
seguiu carreira na Igreja Irlandesa a ponto de se tornar Arcebispo de Armagh,
coisa das mais importantes porque significava responder por toda a Igreja da
Irlanda naquela época. E sendo o que era e quem era, o que ele dizia e escrevia
virava lei. Especialmente o que escrevia, porque era um pensador dedicado a
estudar as Escrituras Sagradas.
E foi estudando as mensagens
secretas e subliminares que acreditava estarem escondidas sob o verbo impresso
nos textos bíblicos que o James Ussher se botou a calcular a cronologia dos
fatos do mundo, especialmente os descritos nos dois primeiros livros da Bíblia:
Gênesis e Êxodo. Dessa maneira, publicou um livro que ficou muito famoso em
toda a Europa, intitulado “A Cronologia do Mundo”, em que afirmava, por a mais
b, que o universo havia sido criado exatamente às nove horas da manhã do dia 23
de outubro de 4004 antes de Cristo. Ou seja, segundo Ussher, o Universo faz
hoje seu aniversário de 6019 aninhos.
A tese de Ussher foi levada a
sério em grande parte do mundo ocidental durante muito tempo. Hoje em dia,
também por a mais b (ou seja, usando-se a mesma técnica, que consiste em
acreditar piamente naquilo que optamos por piamente acreditar), a maioria das
gentes acredita que o universo é bem mais velho e não se pode (ainda) fixar com
exatidão a data de seu nascimento. Eis que assim, demorou muito pouco para que
testemunhássemos a queda da tese de Ussher, o que, por si só, poderia render um
conto. Por enquanto, contentemo-nos com a crônica.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de outubro de 2015)
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