Hoje é o Dia do Balconista. Eu
já fui balconista. Isso foi há muito tempo. Muito, muito tempo atrás. Obviamente
que não segui a carreira de balconista, apesar de essa atividade ter se
configurado como o meu primeiro emprego. Muito tempo atrás, e por pouco tempo. Mesmo
assim, aceito orgulhosamente os parabéns pela passagem da data comemorativa,
por parte de quem quiser parabenizar-me. Obrigado, obrigado. Mas eu não mereço.
Não mereço porque não fui um
representante competente desta categoria profissional. Nas três ocasiões em que
me dediquei a atuar no ramo, colecionei atrapalhos capazes de fomentar um livro
cômico ou uma típica crônica mundana daquelas que certo cronista costuma
publicar neste jornal, neste exato espaço, vez que outra. Só o que ouso
adiantar é que, sobre o balcão no qual atendia na adolescência, durante as
férias escolares, cuidando do negócio de secos e molhados de um tio-avô que se
tocava para a praia, fiz misérias sob os olhares incrédulos da freguesia que
meu parente tanto suava para conquistar ao longo do ano. Pergunte ao balcão,
algumas marcas ainda devem estar por lá, na distante Ijuí.
O problema mesmo era na hora dos
embrulhos, de fazer os pacotes contendo os produtos que o cliente adquirira.
Aquela coisa de dobrar o papel pardo, de enfileirar direito os vidrinhos, de acertar
a fita durex, de... Bom, deixemos prá lá, que a tônica aqui hoje é outra. Os
detalhes ficam por conta da imaginação do leitor que, tenho certeza, jamais
conseguirá se aproximar do que foi a triste realidade. Aquela cena de o cliente
saindo da loja e o barulho dos vidros se espatifando contra a calçada instantes
depois e... Mas, já disse, deixemos prá lá!
O que importa é que desisti da
carreira de balconista (o cliente voltando para a loja, a fumacinha saindo
pelas suas orelhas...) e fui me dedicar a atividades mais afins com minha
verdadeira vocação (a forma como socava o balcão, exigindo a reposição dos
produtos...), porque um dos segredos da vida é justamente saber identificar em
si (a suprema humilhação de o cliente exigindo que o novo pacote fosse feito
por qualquer um da loja, menos eu...) as aptidões que lhe vão trazer realização
pessoal ao longo da vida (e eu olhando a destreza com que o colega empacotava,
ele, sim, um balconista de verdade!). Afinal, há um galho específico à espera
de cada macaco.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de outubro de 2015)
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