Fala-se em crise. Fala-se e
vive-se a crise, porque ela existe e influencia diretamente no cotidiano das
gentes. Alguns percebem mais do que os outros devido às contingências, afinal, 11
mil postos de trabalho fechados em uma cidade como Caxias do Sul em um ano é
fato concreto o suficiente para ninguém ousar falar em “crise psicológica”. Vai
dizer que a crise é “psicológica” para as famílias dos que perderam o emprego.
Experimenta. Quero ver se a resposta vai ser “psicológica” também.
Mas é claro que crise não se
combate com lágrimas. É preciso reagir, e a reação exige a convocação do suor,
daquele suor decorrente da tomada de ações proativas e propositivas, da
determinação em fazer o movimento de levantar do sofá, descruzar os braços,
fechar a matraca da chorumela e arregimentar essas forças todas em favor de
ações criativas que revertam o quadro. Só assim é possível alterar as tintas da
pintura. E a tela é possível, sim, de ser transformada, mas a magia não vai se
dar sem a atuação do mágico. E os mágicos somos nós, cada um de nós (boa essa,
hein, amiga leitora, estimado leitor?). “Os mágicos somos nós”... Eita,
cronista!
Mas, como sou, além de cronista
mundano, também um jornalista mediano (quis rimar os adjetivos e, na pressa, só
me ocorreu esse, que me desabona um pouquinho, é verdade, mas preferi favorecer
a rima a qualquer custo), não posso deixar de constatar um fato doloroso e
compartilhá-lo com meus parcos e insistentes leitores, mesmo que doa sabê-lo, e
saibam que dói. Há uma crise que é impossível de ser revertida, mesmo que se
empreguem contra ela todos os recursos humanos possíveis, conhecidos,
realizáveis e imagináveis. Trata-se da crise de Sol.
Sabe o Sol, também conhecido
como Astro-Rei, aquele corpo celeste gigante, brilhante, bola de fogo, estrela
ao redor da qual a planetada do sistema circula sem parar, bajulando e mamando
o calor e a energia necessários para seguirem suas órbitas milenares na
estrutura universal? Sabe? Hein? Já se esqueceu dele? Pois é, aí é que está,
faz tempo mesmo que não dá as caras e, quando o faz, é de forma tão tímida e
fugaz que já se some de novo, a ponto de muitos terem mesmo esquecido de suas
características. Crise de Sol. Ontem até que espiou um pouquinho por entre as
nuvens, mas não sei não... Acho que não anda gostando do que vê acontecer aqui
em baixo, daí o sumiço e a opção por também entrar em crise. Começo a ficar
preocupado...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de outubro de 2015)
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