Nós, seres humanos, somos bons
ou maus por natureza? Nossa essência em termos de espécie corresponde ao antigo
mito do “bom selvagem”, que defendia que os homens nascem bons e o que os
desvirtua é justamente o processo civilizatório? Ou, pelo contrário, os
fundamentos da civilização refletem com exatidão os desvirtuamentos originais
existentes na essência humana? Boas perguntas para um final de semana, hein?
Longe de ser uma questão que
ocupa e preocupa somente filósofos, artistas, escritores, psicólogos e
teólogos, também os cientistas andam às voltas com o problema, e não é de hoje.
Conhecer a essência da espécie humana, a raiz das motivações de seus atos e sua
forma de pensar e agir, se configura em instrumento de fundamental e vital
valor para compreender as ações e reações humanas e aprimorar o convívio em
sociedade. Afinal de contas, não é de hoje que nós, seres humanos, precisamos
da imposição (às vezes por medo das consequências da Justiça, outras vezes, por
temor da ira divina) de códigos de ética e de conduta para que possamos
conviver minimamente em paz e harmonia, sem que prevaleça a ditadura de nossos
instintos, de nossas raivas, de nossas invejas, de nossas paixões, de nossas
cobiças e assim por diante. Daí as leis, daí os mandamentos. Não fosse assim,
talvez nem mais existiríamos enquanto espécie.
Cientistas da Universidade de
Utah (EUA) andam desenvolvendo uma pesquisa no sentido de descobrir quais as
reais utilidades da mão humana no formato como a possuímos hoje. Além da
destreza em agarrar objetos, manipulá-los e transformá-los, a mão humana é a
única capaz, entre todos os seres do planeta, de formar um punho fechado e, com
ele, desferir socos, muito mais agressivos, poderosos e destrutivos do que os
tapas e os soquinhos de mão semiaberta com que os símios atacam e se defendem.
Ou seja, nós, seres humanos, batemos melhor, agredimos melhor, ameaçamos melhor
do que qualquer outra espécie humanoide ou símia que já tenha existido sobre a
face da Terra.
Talvez a primazia do Homo Sapiens (que somos nós) sobre
outras espécies de humanoides mais gentis e elevadas espiritualmente (como o Homem de Neanderthal, que coexistiu com
os Sapiens e depois foi extinto)
tenha se dado devido ao império do uso da força e da violência. Talvez esses
sejam, em essência, os pilares de nossa civilização e de nossas almas. Talvez.
Tomara que não.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de outubro de 2015)
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